A Ordem dos Médicos (OM) abriu um processo disciplinar ao médico Fernando Nobre, na sequência de uma queixa sobre declarações que prestou numa manifestação de negacionistas da pandemia de covid-19 realizada junto à Assembleia da República.
“Confirmo que deu entrada uma queixa e que se abriu um processo disciplinar” na reunião que decorreu hoje, adiantou à Lusa o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem, Alexandre Valentim Lourenço.
A queixa recebida na OM é “relativa à interpelação” que Fernando Nobre fez junto à Assembleia da República, quando decorria a manifestação, adiantou Alexandre Valentim Lourenço.
Este processo tem agora um “prazo de instrução, de averiguação, de avaliação e ele terá de responder. Faz parte do nosso regulamento disciplinar”, referiu Alexandre Valentim Lourenço, ao adiantar que os processos disciplinares são da responsabilidade dos conselhos disciplinares onde o médico está inscrito, neste caso, o Conselho Disciplinar da Região do Sul da Ordem.
Fernando Nobre é fundador e presidente da organização não-governamental Assistência Médica Internacional (AMI), foi candidato à Presidência da República em 2010 e eleito deputado pelo PSD nas legislativas de 2011, tendo renunciado ao mandato um mês depois, após ter falhado a eleição para presidente do parlamento.
Em 22 de outubro de 2020, o médico apelou aos deputados para que votassem contra a obrigatoriedade de máscara na rua, alegando que estavam em causa direitos e liberdades fundamentais num tema que não reunia consenso científico.
Em declarações à Lusa na altura, Fernando Nobre defendeu que a Constituição da República assegura um conjunto de direitos, liberdades e garantias que, no seu entender, ficariam em causa com a aprovação da obrigatoriedade do uso de máscara na via pública.
“Sinto-me coagido nas minhas liberdades, direitos e garantias que são indeclináveis e que não podem estar sujeitas a interpretações porque isso pode-se tornar perigoso. Daí eu apelar para que os senhores deputados, que o senhor Presidente da República (que é constitucionalista e jurista) e que o Tribunal Constitucional, por favor zelem pelos direitos liberdades e garantias de todos os cidadãos portugueses”, disse na altura.
Na intervenção que fez na manifestação, Fernando Nobre considerou “inacreditável” vacinar crianças e jovens dos 12 aos 16 anos e referiu que se tratou a si próprio da infeção, assim como à mulher e à filha, com medicamentos que não estão aconselhados para a covid-19.
“Numa semana estávamos todos bem”, assegurou Fernando Nobre, que salientou ainda que trabalhou em várias epidemias e nunca recebeu “nem mais um cêntimo” por isso, alegando que era esta a sua função de médico.
Em declarações ao Público, o Conselho Regional do Sul confirmou que recebeu várias queixas contra Fernando Nobre a propósito do seu discurso na manifestação.
O médico vai ser notificado, sendo que “a tramitação fica reservada a partir deste momento”, afirmou a fonte do Conselho Regional do Sul da OM.
A partir do momento em que for notificado, Fernando Nobre terá 15 dias úteis para responder ao Conselho Disciplinar Regional do Sul, segundo a presidente, Maria do Céu Machado.
Caso não responda, o médico é notificado uma segunda vez e tem um prazo de sete dias úteis para fazer chegar à OM uma resposta a ter em conta na decisão final discutida em plenário pelo conselho disciplinar.
De acordo com o regulamento da Ordem dos Médicos, todos os médicos são obrigados a responder ao organismo, pelo que “se um médico não responder, isso é considerado uma agravante”, referiu a presidente.
Francisco George desafia Fernando Nobre para um debate sobre a vacina
O ex-diretor-geral da Saúde Francisco George desafiou Fernando Nobre para um debate sobre a vacina contra a covid-19, na sequência das declarações que o médico proferiu numa manifestação de negacionistas.
Para Francisco George, a posição de Fernando Nobre “é absolutamente intolerável”, considerando que reflete “atitudes incompreensíveis que um médico não pode ter”.
“Recentemente vi circular nas redes [sociais] uma alocução do presidente da (organização não-governamental) AMI (Assistência Médica Internacional), Fernando Nobre, que diz ser médico e que está absolutamente contra as vacinas, num tom que um médico não pode adotar”, afirmou o especialista de Saúde Pública, em declarações à agência Lusa.
Francisco George disse que Fernando Nobre “não fala em vacinação, fala em injeção, diz que não aceita que a neta seja injetada, não aceita que os filhos sejam injetados, não aceita que os portugueses sejam injetados”.
Francisco George criticou o fundador da AMI por veicular “informações transmitidas publicamente de uma forma enganadora”.
“Não podemos enganar a população, sobretudo aparecer como médico e dizer ‘eu não recomendo a vacina, eu não fiz a vacina, eu não faço aos meus filhos, eu não vou injetar a minha neta. Isto não é aceitável porque não tem nenhuma base científica”, declarou.
Perante esta situação, avançou que gostaria de convidar Fernando Nobre para um debate, comentando que não sabe se “ele tem noções de Medicina, de Biologia, de Epidemiologia, de doenças infecciosas” ao querer impedir, “como ele diz”, ‘injetar os portugueses’.
ZAP // Lusa
Já quando tinha sido candidato tinha feito uma figura muito triste. Ou fico como presidente da assembleia da república ou vou-me embora.
Isto agora insere-se na mesma linha. Já não surpreende.
Já se tinha reparado que ele não batia bem na altura que queria ser presidente da AR à força, mas o pior foi no início da pandemia – quando se juntou aos negacionistas e começou a ir contra a ciência.
Este “Medico”, com o vocabulário que se expressa, pessoalmente não me inspira nenhuma confiança. Diz que recusa “Injectar” os seus Familiares, quando o termo correcto, relativo ao acto de Vacinar é Inocular. Será que a Idade que tem o afecta Psicologicamente ???…que recuse Vacinar-se e vacinar os seus Familiares e tomar as mais básicas medidas de proteção em termos de prevenção, é o seu direito. Mas então que mude de Profissão, porque para um “Medico”, a sua postura é inadmissível !