O FBI juntou-se ao Departamento de Energia e aponta a fuga num laboratório como a origem mais provável da pandemia, mas há cientistas a criticar a falta de transparência das agências norte-americanas.
O director do FBI, Christopher Wray, acredita na teoria de que a pandemia teve origem numa fuga acidental do vírus de um laboratório chinês.
“O FBI há já algum tempo que assessou que as origens da pandemia são muito provavelmente um potencial acidente num laboratório em Wuhan”, revelou Wray em entrevista à Fox News, frisando que esta conclusão se baseou nas pesquisas dos analistas e cientistas da agência. “Não há muitos detalhes que posso partilhar que não sejam confidenciais”, acrescentou.
Os comentários de Wray surgem depois de, no domingo, o Departamento de Energia também ter apontado um acidente num laboratório em 2019 como a origem da pandemia, após os especialistas se terem anteriormente mostrado indecisos sobre como o coronavírus emergiu.
Esta mudança de postura teve por base novas informações de inteligência. Os responsáveis não adiantam publicamente o que descobriram de novo, mas o Departamento de Energia distingue-se de outras instituições por ter uma rede nacional de laboratórios, pelo que os seus indícios podem basear-se em investigações biológicas e não nos métodos tradicionais, como a espionagem ou a intercepção de comunicações.
Mesmo assim, alguns responsáveis conhecedores das novas informações afirmam que os indícios são relativamente fracos e que o Departamento de Energia tinha “baixa confiança” na sua conclusão, relata o The New York Times.
O Departamento partilhou os novos dados com outras agências, mas nenhuma delas mudou a sua posição. As descobertas do Departamento e os comentários de Wray ilustram a divisão que existe na comunidade de inteligência norte-americana, já que quatro outras agências e o Conselho Nacional de Inteligência concluíram, também com baixa confiança, que o vírus teve uma origem natural.
Alguns cientistas acusam as agências norte-americanas de falta de transparência ao revelarem publicamente as suas conclusões sem partilharem as provas ou indícios que recolheram com a comunidade científica.
Política ao barulho
Se há uma divisão entre os cientistas e os especialistas de inteligência sobre a origem da pandemia, o mesmo pode ser dito no plano político.
Muitos dos recentes relatórios do Congresso sobre informações de inteligência não têm sido bipartidários e nota-se uma clara diferença de opinião entre Democratas e Republicanos — os primeiros não têm sido persuadidos pela hipótese do acidente e acreditam na teoria das causas naturais, os segundos geralmente apontam o dedo aos laboratórios chineses em Wuhan.
Os Republicanos criaram ainda um subcomité quando assumiram o controlo da Câmara dos Representantes, em Janeiro, que terá como principal objectivo examinar a teoria do acidente num laboratório e começará a ouvir especialistas em Março.
“As evidências acumulam-se há mais de um ano a favor da hipótese da fuga do laboratório”, afirma o congressista Mike Gallagher, um Republicano que faz parte do Comité de Inteligência da Câmara e lidera um novo comité sobre a China. “Fico feliz que algumas de nossas agências estejam a começar a ouvir o bom senso e a mudar as suas avaliações”, acrescenta.
Gallagher avança que a primeira audição do comité se vai focar na ameaça que o Partido Comunista Chinês representa para os Estados Unidos e que as seguintes vão abordar as suspostas tentativas chinesas de pressionar organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde.
Recorde-se que, em 2021, a OMS declarou ser “extremamente improvável” que o coronavírus tenha nascido num laboratório. As autoridades chineses têm repetidamente também afirmado que não há quaisquer indícios de ter havido uma fuga e dizem que esta teoria tem motivações políticas.
Estas revelações do Departamento de Energia e do FBI surgem numa altura de grande tensão entre Pequim e Washington, no seguimento das trocas de acusações em torno do incidente do balão chinês abatido pelos EUA.
O orgão de comunicação estatal chinês Global Times mostrou a sua irritação com estas teorias fazendo de Elon Musk um exemplo. O dono do Twitter comentou publicamente o relatório do Departamento de Energia e, de acordo com a CNBC, o Global Times usou as redes sociais para aconselhar Musk a não “morder a mão que o alimenta”, já que a Tesla tem uma enorme fábrica em Xangai.