Fármaco para a hipertensão pode abrandar o envelhecimento

O fármaco rilmenidina, usado para tratar a hipertensão, melhora marcadores de saúde em animais e pode abrandar o envelhecimento, revelou um novo estudo.

Na investigação, cujos resultados foram publicados recentemente na Aging Cell, os investigadores verificaram que o fármaco aumenta a longevidade em cerca de 20% em vermes C. elegans. Estes vivem, em média, um período máximo de 30 dias, mas os que consumiram o medicamento viveram mais 20% desse tempo.

De acordo com estudo, coordenado pelo investigador João Pedro Magalhães, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, a rilmenidina também abrandava a envelhecimento dos vermes, melhorando a sua mobilidade ou ingestão de alimentos.

Segundo explicou o especialista, citado pelo Público, já era sabia que o medicamento em causa podia ativar a autofagia, um complexo sistema de reciclagem e autodestruição das células que nos protegem. Também poderia ser usado como tratamento para doenças neurológicas e neurodegenerativas em ratos.

Neste novo estudo, os investigadores constataram que, em vermes C. elegans e ratinhos, os efeitos da rilmenidina são semelhantes aos da restrição calórica, uma dieta que que pode ter efeitos anti-envelhecimento. Em humanos, estudos têm mostrado que pode ter efeitos secundários.

Para observar essas semelhanças, a equipa fez experiências com animais que eram sujeitos a uma restrição calórica; com outros que só tinham consumido o fármaco; e com outros que consumiam o fármaco e eram sujeitos a uma restrição calórica.

Individualmente, os efeitos do fármaco e da restrição calórica eram semelhantes, mas juntos não aumentavam a longevidade, o que sugere que funcionem com os mesmos mecanismos biológicos.

Ao conseguir mimetizar os efeitos da restrição calórica, o fármaco pode vir a fornecer uma estratégia de anti-envelhecimento. “Identificar compostos e medicamentos que mimetizem a restrição calórica sem os efeitos secundários é de grande interesse”, notou João Pedro Magalhães.

A equipa conseguiu ainda mostrar que, possivelmente, a rilmenidina aumenta a longevidade e melhora a saúde ao ativar a autofagia. Primeiro, verificou-se o aumento da autofagia em vermes. Depois, quando se “desligava” a autofagia, a longevidade deixava de aumentar, mesmo com os que tinham consumido o fármaco.

Este novo estudo pode abrir novas oportunidades para se realizarem ensaios clínicos em humanos e reutilizar a rilmenidina para um propósito distinto do atual. O investigador sublinhou que isto é importante porque, do que se sabe, é no geral um fármaco seguro e com efeitos secundários que não são graves.

“Com base nos nossos resultados, pensamos que a rilmenidina pode vir potencialmente a ser uma nova estratégia de anti-envelhecimento”, referiu o investigador. “Se conseguíssemos abrandar o envelhecimento, mesmo que só um pouco, os benefícios a nível da saúde seriam imensos“, acrescentou.

O cientista referiu ainda que o reposicionamento de fármacos que possam aumentar a longevidade pode ter imenso potencial para melhorar a saúde na velhice.

“Claro que são precisos mais estudos, nomeadamente ensaios clínicos em seres humanos, mas o nosso trabalho abre as portas para se utilizar a rilmenidina para tratar outras doenças associadas ao envelhecimento“, concluiu o investigador.

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