“Temos de pedir dinheiro emprestado”: 41% das freguesias sem Multibanco

Quase metade das freguesias em Portugal não têm um único ponto de levantamento de dinheiro. Há quem vá a Espanha.

Não é um pormenor: há 3.091 freguesias em Portugal e 1.276 freguesias (41% do total) não têm qualquer caixa Multibanco. São 740 mil pessoas sem multibanco na sua freguesia.

Os números são oficiais, de um estudo realizado pelo Banco de Portugal relativo aos dados de 2022.

Como seria de esperar, a grande maioria das falhas verifica-se no interior, sobretudo nos distritos Vila Real, Beja e Bragança.

E o motivo principal são as exigências dos bancos, avançar o Jornal de Notícias.

Há bancos que exigem às juntas de freguesia mensalidades de centenas de euros e ainda milhares de euros para instalar os equipamentos – exigências legais, segundo o Banco de Portugal. Mas muitas entidades locais não têm dinheiro para isso.

A Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) espera que o Governo de Luís Montenegro mantenha o acordo que o Governo de António Costa negociou com a banca para a colocação, “sem custos para as juntas, de 200 multibancos nas freguesias mais necessitadas”.

Um exemplo em destaque no JN é o da União das Freguesias de Quirás e Pinheiro Novo, em Vinhais (distrito Bragança, na zona de fronteira com Espanha).

A caixa multibanco mais próxima fica a 30 quilómetros, com um percurso muito sinuoso até lá.

A Junta de Freguesia montou um terminal de pagamentos, ainda há uma carrainha (que passa uma vez por semana) rumo a Vinhais, mas os habitantes locais preferem ir a Espanha, a La Godiña, que fica a 14 quilómetros – sendo que muitos são idosos.

Na aldeia Passos de Lomba, o habitante Gil Ferreira relata: “Eu vou a Vinhais, mas só quando tenho outras coisas para fazer. Se houver uma emergência, temos de pedir emprestado aos vizinhos. Não há outra solução”.

O Banco de Portugal está atento a estes problemas mas lembra que Portugal “é líder na área do euro em número de caixas automáticas per capita”.