“Mandem já o alerta!”: o desespero nas cheias de Valência (e as mortes que poderiam ter sido evitadas)

MANUEL BRUQUE/EPA

Pessoas no meio dos danos causados pelas inundações no município de Paiporta, na província de Valência, Espanha.

Chuvas torrenciais e inundações marcaram o ano passado em Espanha. Justiça tenta perceber o que falhou na gestão do desastre. 227 pessoas terão morrido.

2024 ficou marcado em Espanha, sobretudo em Valência, pelo que aconteceu no dia 29 de Outubro e nos dias seguintes: um dilúvio que deixou um rasto de destruição e terá provocado 227 mortes – 224 confirmadas, mas ainda há três desaparecidos.

A juíza de Catarroja que está a investigar o caso considera que ninguém teria conseguido evitar os danos materiais. Mas muitas mortes poderiam ter sido evitadas nesse fenómeno meteorológico DANA, anuncia a RTVE.

As instituições do governo local, a Generalitat valenciana, estão a ser o alvo. Aparentemente, a conselheira de Justiça e Interior, Salomé Pradas, recusou enviar o alerta por SMS, mal recebeu a indicação dos técnicos; preferiu esperar pela chegada de Carlos Mazón, presidente da Generalitat – que chegou já ao início da noite (tinha passado a tarde num restaurante).

A conselheira foi pressionada para tomar decisões imediatamente, mas adiou várias vezes, relata o delegado Salvador Enguix, cita a rádio Cadena SER.

Resultado: os técnicos disseram para o alerta ser enviado às 18h, a conselheira esperou pelo presidente que só chegou às 19h30 e o alerta geral só seguiu às 20h11.

Esse aviso enviado por SMS seria, não para alarmar, mas para informar todos os habitantes locais de que havia riscos sérios por causa das cheias. As precauções poderiam ter sido tomadas mais cedo, os habitantes poderiam ter subido mais cedo se vivessem em prédios.

Salvador Enguix conta que, a certa altura, a conselheira Salomé Pradas parecia completamente bloqueada, sem conseguir decidir nada apesar dos alertas; e um dos técnicos atirou: “Mandem o alerta já, car…!”. Era um ambiente de desespero. Mas Salomé nada decidiu; deixou tudo para o presidente.

Perante este cenário, o Tribunal está claramente centrado na ausência de avisos à população – que nunca foi informada oficialmente da escala da tragédia e, assim, pouco ou nada fez para se proteger.

Entretanto, em Novembro a tal Salomé Pradas foi despedida pelo presidente Carlos Mazón.

ZAP //

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