O vazamento de gravações telefónicas e e-mails revelam que um ex-ministro da Defesa boliviano estava a preparar-se para usar tropas estrangeiras para impedir que o partido de esquerda MAS regressasse ao poder.
Os documentos e registos telefónicos obtidos pelo The Intercept mostram que um alto funcionário do governo boliviano, que estava de saída do poder, conspirou para usar centenas de mercenários norte-americanos para virar os resultados das eleições de outubro de 2020.
O objetivo era usar estes mercenários para impedir à força Luis Arce de assumir a presidência do Movimiento al Socialismo, ou MAS, partido do ex-presidente boliviano Evo Morales.
Numa das gravações que vazaram, uma pessoa identificada como ministro da Defesa da Bolívia disse que estava “a trabalhar para evitar a aniquilação” do seu país. Prosseguiu, apelando a que as forças armadas e o povo bloqueassem o governo de Arce. “As próximas 72 horas são cruciais”, atirou.
Desentendimentos entre ministros e divisões dentro das forças armadas parecem ter feito com que o plano fosse por água abaixo. Vários altos funcionários do governo cessante fugiram da Bolívia ou foram presos por acusações diferentes.
Em outubro de 2019, Evo Morales participou nas eleições presidenciais para um controverso quarto mandato. A oposição acusou-o de manipular as eleições. Protestos do povo, um motim policial e pressão exercida pelo exército, levou Morales a abdicar do cargo e fugir para o estrangeiro.
A chegada da Presidente interina, Jeanine Áñez, fazia anunciar novas eleições num futuro próximo. No entanto, a senadora agarrou-se ao cargo e as forças armadas levaram a cabo múltiplos massacres enquanto suprimiam a oposição.
Vários dos conspiradores discutiram um voo charter de centenas de mercenários estrangeiros para a Bolívia a partir de uma base militar dos EUA. Estes uniriam forças com unidades militares de elite bolivianas, esquadrões de polícia renegados e multidões de vigilantes numa tentativa desesperada de impedir que o maior movimento político do país regressasse ao poder, conta o The Intercept.