A empresa chinesa tinha escapado ao default nas últimas vezes ao conseguir pagar os juros nos últimos momentos, mas desta vez, isso não aconteceu.
Depois de vários meses em que se antecipava este cenário, a gigante imobiliária chinesa Evergrande entrou mesmo em incumprimento depois de falhar o pagamento dos juros de uma dívida emitida em dólares no estrangeiro.
A agência de rating Fitch já cortou a avaliação da empresa para restricted default, o que “reflecte o não pagamento de cupões vencidos a 6 de Novembro de 2021, findo o período de carência, que terminou a 6 de Dezembro”, justifica num comunicado.
Esta classificação significa que a Evergrande falhou a liquidação dos juros, mas que ainda não accionou os mecanismos para entrar em bancarrota, insolvência ou proteccção contra credores, continuando a operar.
A empresa também não forneceu informações sobre o destino dos cupões vencidos, segundo a Fitch. “Assumimos por isso que a dívida não foi paga”, afirmam.
Ainda na sexta-feira, a Evergrande já tinha alertado para a possibilidade de não conseguir saldar os próximos pagamentos que tinha de fazer no valor de 82,5 milhões de dólares (73 milhões de euros).
Os títulos de dívida em questão já tinham atingido a maturidade no início de Novembro. O período de carência de um mês para o pagamento dos juros terminou esta segunda-feira e, desta vez, a Evergrande não conseguiu saldar as dívidas no fim do prazo, como fez nas últimas três situações.
Já desde Setembro que a empresa tem falhado pagamentos, mas tem evitado entrar no default ao renegociar com os credores à última hora.
A Evergrande, que está cotada na bolsa de Hong Kong, é uma empresa imobiliária que foi uma das principais impulsionadoras do “milagre” económico da China. A empresa recorria a empréstimos para poder continuar a expandir o negócio e chegou ao ponto de ser o construtor mais endividado do mundo, tendo acumulado uma dívida maior do que a economia portuguesa — 274 mil milhões de euros.
As obrigações em causa neste incumprimento foram emitidas por uma subsidiária da Evergrande, a Tijan. Apesar dos receios iniciais de que a situação da empresa pudessem causar um contágio nos mercados semelhante ao que aconteceu com a queda do Lehman Brothers, em 2008, por enquanto, isso ainda não se verificou.
O banco central chinês fez uma injecção de 188 mil milhões de dólares nos últimos dias na empresa e vai ser criado um comité que integra representantes do estado para se avançar com uma reestruturação da dívida, o que está a ajudar a limitar as repercussões da entrada em incumprimento.
Na sexta-feira, a Evergrande anunciou esta reestruturação na dívida, dizendo que está a “avaliar a situação financeira global e, de acordo com os interesses de todos os stakeholders e no respeito dos princípios da justiça e legalidade, planeia negociar com os credores internacionais um plano de reestruturação viável da dívida que a empresa tem no exterior, para benefício de todos os stakeholders”.
A Fitch avisa, contudo, que as obrigações em dólares restantes podem ser resgatadas de imediato caso 25% dos titulares assim o entendam.
O presidente e fundador do grupo, Hui Ka Yan, é contra a venda de alguns dos activos mais valiosos para poder ajudar a pagar a dívida. O envolvimento do estado chinês pode também ditar o fim do seu império, tendo Hui Ka Yan já sido um dos homens mais ricos da Ásia.
Para além da crise da Evergrande, a Kaissa, outra empresa imobiliária chinesa, está a preocupar os mercados, pois entrou também em restricted default depois de não liquidar títulos de dívida no valor de 400 milhões de dólares (353 milhões de euros), que venceram na passada terça-feira.