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Europa corre o risco de gelar. Portugal “safa-se”

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jquiz / Flickr

Tudo depende da corrente do Oceano Atlântico. Estudo publicado esta quarta-feira quantifica, pela primeira vez, como seriam as temperaturas em diferentes cenários: extremos de frio poderão atingir -34ºC.

As temperaturas na Europa poderão descer significativamente e Bruxelas pode chegar aos 21°C negativos, caso a corrente do oceano Atlântico que regula o clima europeu colapse ou enfraqueça, alerta um estudo divulgado esta quarta-feira.

Em causa está a corrente que regula o clima europeu, conhecida pela sigla AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation) e que os cientistas dizem estar a abrandar devido ao aquecimento global.

Segundo o estudo, do Real Instituto Meteorológico dos Países Baixos e da Universidade de Utrecht, publicado na Geophysical Research Letters, Bruxelas pode viver 19 dias por ano com temperaturas máximas inferiores a zero.

Mais tempestades e clima mais “bipolar”

Cientistas e investigadores têm alertado com insistência que se a AMOC atingir um ponto de rotura poderá levar a uma Europa mais fria, num mundo mais quente. O novo estudo quantifica, pela primeira vez, como seriam as temperaturas europeias em diferentes cenários da corrente do Atlântico e das alterações climáticas.

No quadro apresentado, a capital portuguesa não aparece entre as cidades mais afetadas.

No entanto, segundo René van Westen, autor do estudo, as temperaturas médias no inverno em algumas cidades europeias poderão descer 15ºC e os extremos de frio poderão atingir -34ºC em Copenhaga, -29ºC em Berlim e -18ºC em Paris.

No Reino Unido e na Irlanda, os extremos de frio poderiam atingir -19°C em Londres, quase -30°C em Edimburgo e -22°C em Dublin, com a camada de gelo do Ártico a cobrir partes das Ilhas Britânicas.

Com uma AMOC mais fraca e com um cenário de aumento da temperatura de dois graus acima da época pré-industrial haverá um arrefecimento da Europa porque uma corrente mais fraca leva à expansão do bloco de gelo marinho do Atlântico Norte. E também se registará um aumento das tempestades de inverno e maiores flutuações diárias da temperatura, explica-se no estudo.

“Cada fração de grau de aquecimento global aproxima-nos do colapso do AMOC. O nosso novo estudo mostra que isso levaria a Europa ao outro extremo — um futuro de frio intenso”, diz René van Westen citado no documento. E acrescenta:

“O nosso estudo é mais um forte aviso aos decisores políticos da UE de que, para evitar uma catástrofe climática, devem seguir o conselho dos cientistas do Conselho Consultivo Científico Europeu para as Alterações Climáticas e reduzir as emissões em 90-95% até 2040. Temos de reduzir urgentemente as emissões de gases com efeito de estufa“.

A AMOC leva as águas quentes para o norte ao longo da superfície do Atlântico e transporta para sul as águas frias e profundas, fornecendo calor e nutrientes às regiões mais frias e transferindo carbono para o fundo do mar.

Isto ajuda a regular as temperaturas europeias e as temperaturas amenas devem-se em parte a essa corrente. O abrandamento perturbaria o transporte do calor para norte, levando ao arrefecimento da Europa.

Em 2023, um mapa térmico divulgado pela NASA exibia, no meio de um planeta colorido de vermelho e laranja, uma mancha azulada na região do oceano perto do Canadá e da Gronelândia, revelando temperaturas mais amenas.

NASA Scientific Visualization Studio / Wikimedia

A “bolha fria” começou a ser observada há cerca de uma década e a teoria mais consensual até hoje sobre ela é que se deve à desaceleração num sistema global de circulação oceânica explorada pelo novo estudo, a AMOC.

O estudo foi divulgado numa altura em que decorre em Nice, França, a terceira conferência mundial dos oceanos, que junta decisores políticos de todo o mundo e pretende mobilizar para a importância dos oceanos e para a degradação a que estão sujeitos.

ZAP // Lusa

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