Especialistas acreditam que os EUA e a Rússia estão interessados em novas armas com o potencial de serem usadas num tipo de guerra nuclear que não era pensada há anos.
Em vez de uma conflagração global, seria um conflito nuclear tático, onde armas seriam implantadas no campo de batalha.
“Acho que pode haver um entusiasmo renovado tanto nos Estados Unidos como na Rússia por novas armas nucleares em papéis de combate”, explica Jeffrey Lewis, membro do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais (Califórnia, EUA).
Numa base russa no Mar Báltico, no território conhecido como Kaliningrado, uma nova geração de mísseis com capacidade nuclear está em construção.
Imagens de satélite mostram que estruturas semelhantes a barracas surgiram recentemente para abrigar o sistema de mísseis móveis conhecido como Iskander, capaz de disparar armas com ogivas nucleares e convencionais.
Também mostram que os antigos edifícios na base estão a ser demolidos – parece que uma reforma está em andamento.
Enquanto isso, a mais de 12.800 quilómetros de distância, no Texas, os EUA começaram a produção de um novo tipo de arma nuclear. Conhecida como W76-2, é uma variante menor de uma arma nuclear existente. O governo de Donald Trump afirma que esta nova ogiva ajudará a combater as capacidades da Rússia.
Pequenas armas nucleares em combate
A ideia de usar pequenas armas nucleares em conflito estabeleceu-se no auge da Guerra Fria. Em julho de 1962, centenas de soldados organizaram um ataque simulado no deserto de Nevada, nos EUA.
Antes de entrar, um porta-aviões blindado disparou uma arma nuclear em miniatura conhecida como “Davy Crockett” numa posição inimiga simulada. A arma detonou com uma pequena fração da força de uma ogiva termonuclear destrutiva. Numa hora, tropas e tanques dos EUA atravessaram o deserto em chamas para declarar uma vitória simulada.
Naquela época, era assim que uma guerra nuclear seria imaginada: pequenas armas nucleares usadas juntamente com armas convencionais para vencer ou conter um oponente.
Com o prolongamento da Guerra Fria, os EUA construíram milhares de minas, mísseis e artilharia nuclear destinados ao uso no campo de batalha. “Ao longo da década de 1980, estas armas tornaram-se cada vez mais um risco”, conta Lewis.
Em 1991, a União Soviética entrou em colapso. “No fim da Guerra Fria, os EUA disseram: Isso foi meio idiota, por que temos tudo isto?”, diz Matthew Kroenig, especialista em política nuclear no Atlantic Council e professor na Universidade de Georgetown (EUA).
Assim, os EUA desmantelaram quase todas as suas armas nucleares de campo de batalha. Mas a Rússia seguiu um caminho diferente – manteve milhares de armas nucleares pequenas.
“Então, hoje, a Rússia tem minas terrestres nucleares, torpedos nucleares, cargas de profundidade nuclear, artilharia nuclear, mísseis nucleares de curto alcance”, acrescenta Kroenig.
Acredita-se que as armas nucleares russas sejam mantidas longe de qualquer conflito em potencial. Mas os mísseis que poderiam carregá-las, não. Em bases como Kaliningrado, a Rússia está a implantar mísseis e a fazer upgrades.
Promessa ou ameaça?
Olga Oliker, do International Crisis Group, pensa que as armas, juntamente com algumas declarações veladas de autoridades russas, destinam-se parcialmente a enviar uma mensagem: “Não se esqueçam que temos armas nucleares. Não se esqueçam que podemos usá-las”.
Para ela, todo esta conversa sobre armas nucleares é principalmente postura. Mas o governo Trump diz que há sinais de que a Rússia pode ser tentada a usar de facto as suas armas nucleares táticas. Por exemplo, pode decidir lançar uma bomba nuclear no campo de batalha no início de uma crise.
Se isso acontecesse, Kroenig crê que os EUA e os seus aliados não seriam capazes de responder da mesma maneira, porque as únicas armas nucleares remanescentes são armas grandes projetadas para combater uma espécie de guerra nuclear apocalíptica.
“Poderíamos recuar para evitar a guerra nuclear, ou poderíamos retaliar com as nossas grandes armas nucleares estratégicas, potencialmente arriscando um grande ataque nuclear”, diz Kroenig.
Esse é o valor do novo W76-2 sendo a ser construído. “Se usa uma arma nuclear de baixo rendimento, podemos responder com uma, duas ou três das nossas próprias”, argumenta Kroenig.
Caminho perigoso
Alguns preocupam-se com o facto de que as novas armas podem levar os EUA e a Rússia para um caminho de volta aos dias sombrios da Guerra Fria.
Hans Kristensen, diretor do Projeto de Informações Nucleares da Federação de Cientistas Americanos, alerta que essas armas menos poderosas podem fazer com que as armas nucleares pareçam mais utilizáveis pelos planeadores de guerra dos EUA. “Eu acho que é um desperdício de dinheiro, e é um tipo perigoso de missão”, aponta.
Kristensen diz que o W76-2, em particular, é um tipo “muito pouco ortodoxo” de arma de baixo rendimento. Embora o governo não forneça detalhes oficiais sobre a ogiva, Kristensen e outros assumem que ela é a reformulação de uma arma termonuclear muito mais poderosa, conhecida como W76-1.
O W76-1 tem um componente “primário” nuclear que detona a parte “secundária” termonuclear, muito maior, da arma. Ao remover ou desabilitar a parte secundária, deixando intacta a pequena parte primária, converte-se rapidamente uma grande arma estratégica num dispositivo de campo de batalha menos potente.
Mas Lewis observa que isso cria outro problema: ambas as versões do W76 são lançadas no mesmo míssil balístico. “Tudo o que os russos vão ver é que um míssil que transporta ogivas nucleares está se dirigindo para a Rússia”, sugere Lewis, temendo que retaliem com poderosas armas de longo alcance.
Matthew Kroenig contesta isto. Se os EUA lançassem uma arma, seria provavelmente um único míssil em resposta a uma arma nuclear russa no campo de batalha. Os russos provavelmente reconheceriam isso.
Kroenig, como Oliker, acredita que os países estão apenas a enviar mensagens. Assim, o objetivo das novas armas dos EUA não é combater uma nova batalha que use armas nucleares no campo de batalha, mas sim sinalizar à Rússia que a América tem opções.
O verdadeiro combate sobre estas novas armas pode acabar no Congresso americano, no entanto. Enquanto os republicanos parecem prontos para apoiar o pedido da administração Trump por mais armas nucleares no campo de batalha, a recém-eleita maioria democrata na Câmara parece ter a intenção de bloqueá-las.
“Não vemos as armas nucleares como uma ferramenta na guerra”, disse Adam Smith, agora presidente democrata do Comitê de Serviços Armados da Câmara, em um discurso em novembro passado. “Não faz sentido para nós construirmos armas nucleares de baixo rendimento”.
Errado meus amigos, interessante é quando a guerra é assimétrica com mísseis nucleares intercontinental equipados com ogivas de 100 megatons percorrendo de um lado ao outro do planeta