O Departamento de Justiça dos Estados Unidos sugeriu obrigar a Google a vender o navegador Chrome – peça basilar da empresa. Poderemos estar a assistir ao desmantelamento da gigante tecnológica?
A Google está a ser julgada num processo em que é acusada de manter um monopólio ilegal nas pesquisas.
De acordo com dados do StatCounter, citados pelo Expresso, o Google Search tem uma quota mundial de 89,3%, contra 4,15% do Bing, 2,8% do Yandex e 1,33% do Yahoo!.
O Departamento de Justiça de Joe Biden pediu ao juiz federal Amit Mehta que force a Google a vender o navegador Chrome – parte fundamental da empresa.
O Chrome é (de muito longe) o navegador mais usado do mundo, contribuindo de forma decisiva para a manutenção do domínio do motor de busca da Google.
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, argumenta que o domínio da Google nos motores de busca é tão forte que os sites estruturam os seus conteúdos para se encaixarem nos seus requisitos – tornando difícil qualquer tipo de concorrência.
“A proposta de decisão final requer que a Google se desfaça do Chrome, o que irá acabar de forma permanente com o controlo da Google sobre este ponto de acesso crítico às pesquisas e permitir que motores de busca rivais possam aceder ao navegador que, para muitos utilizadores, é a porta de entrada na internet”, escreveu o Departamento de Justiça.
Quem se ergue uma vez
Curiosamente, como nota o Expresso, o crescimento explosivo da Google só foi possível porque, nos anos 90, a Justiça norte-americana levou a Microsoft a tribunal, por comportamento monopolista. Na altura, o problema era o navegador da Microsoft ser gratuito e instalado por defeito no Windows.
Foi, precisamente, o acordo que resolveu o processo, no ano de 2002, já neste século, que abriu a concorrência e despoletou o crescimento da Google.
Ergue-se “duas ou três”?
No cenário hipotético de a empresa fazer alterações com impacto no mercado, o juiz pode considerar que não é necessário forçar a venda do Chrome. No entanto, se o juiz forçar a venda do Chrome o impacto poderá ser catastrófico.
Em declarações ao Expresso, o analista Murthy Grandhi da consultora Global Data, teoriza que os EUA podem destruir todo um ecossistema internético.
“Com o Google Chrome a representar quase dois terços do mercado global de navegadores, as implicações de uma venda forçada para o modelo de negócio e valor bolsista da Alphabet são profundas”, considerou, referindo-se à Alphabet – a “mãe” da Google.
“É mais que um navegador, é um eixo do ecossistema da Alphabet, conectando os utilizadores a serviços como o Gmail, Google Drive e YouTube”, continuou.
É aqui que está o ponto da Justiça norte-americana: a separação do Chrome irá desmantelar o modelo de negócio atual da empresa.
A Google acusa a Justiça norte-americana de “agenda radical intervencionista”.
A expectativa é de que a empresa se reinvente e revolucione as suas estratégias, tal como aconteceu no início da década de 2000.
No entanto, uma possível mudança drástica vai afetar sempre alguém.
Por exemplo, a Mozilla, que desenvolve o Firefox, avisou que banir estes acordos vai ter impacto em pequenos navegadores – uma vez que o dinheiro que recebe para definir o Google por defeito nas suas plataformas no Firefox é fundamental para a sua sobrevivência.