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Estudo polémico mostra que os ratos machos podem engravidar e dar à luz

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Rama / Wikimedia

Equipa envolvida no estudo pediu à revista onde este havia sido publicado para o retirar da versão online face à onda da críticas proveniente da comunidade científica, que considera os métodos usados demasiado evasivos e pouco éticos.

Que alguns seres machos do mundo animal conseguiam engravidar e dar à luz as suas crias não é uma novidade — acontece com os cavalos marinhos e algumas das suas espécies mais próximas.

No entanto, um grupo de cientistas chineses levou esta ideia a um novo patamar, procedendo, em ambiente laboratorial, ao transplante de úteros em ratos e inseminando-os de seguida — tudo isto depois de os castrarem.

O processo culminou com os animais a darem à luz através de cesariana, e 4% das crias que nasceram na sequência deste processo sobreviveram.

Os investigadores envolvidos na pesquisa olham para o método usado como uma novidade positiva e útil para investigações futuras relacionadas com a biologia reprodutiva, por exemplo na identificação de fatores-chave que, a nível sanguíneo, podem determinar a viabilidade de uma gravidez.

(dr) Rongjia Zhang et al

Esquema ilustrativo da experiência de Rongjia Zhang

No entanto, o estudo não bem bem recebido pela comunidade científica, com alguns pares a questionar a utilidade das conclusões devido às condições altamente artificiais em que a investigação decorreu.

As críticas foram tantas que os autores solicitaram mesmo a remoção da pesquisa da edição online da revista científica onde os resultados foram divulgados. Apesar de este desejo ter sido concedido, a edição imprensa da revista continua disponível.

À The Scientist, Tony Wilson, biólogo no Brooklyn College, colocou em causa a veracidade da ideia, sugerida pelos autores do estudo, de que haviam efetivamente criado um modelo de gravidez masculino relevante para a ciência, uma vez que as manipulações cirúrgicas necessárias para gerar os animais parabióticos usados nestes testes são muito delicadas e exigem grande mestria.

Rongjia Zhang, uma das autoras do polémico estudo e investigadora na Universidade de Medicina Naval de Shangai, concedeu à reputada revista científica à sua versão dos factos.

“Eu tive esta ideia de usar o modelo de um parabiótico heterossecual que consistia num rato macho castrado e um rato fêmea para estudar a gravidez masculina de mamíferos, mas no início duvidei que fosse resultar, porque nunca havia sido testada antes.”

A investigadora revelou ainda que dedicou muito tempo a debater, rever literatura, fazer testes experimentais, modificar o meu plano antes de entrar nos últimos passos da experiência.

Estes consistem em quatro etapas.

Primeiramente, Zhang e os restantes investigadores castraram um rato macho e através de uma cirurgia ligaram-no a fêmeas através das suas laterais, criando, assim, pares microbióticos.

Para cada par, foi transplantado um útero para o indivíduo masculino antes de implementarem embriões em fase de blastocisto tanto no útero do rato macho como no útero nativo da fêmea. Posteriormente, dois dias antes da gravidez ser considerada completa, os investigadores realizaram cesarianas e separaram os ratos adultos.

A equipa descobriu que em mais de metade dos 46 pares parabióticos gerados, nenhum dos elementos — macho ou fêmea — engravidaram com embriões desenvolvidos naturalmente.

Num terço dos pares, apenas um rato fêmea acabou a por engravidar com um embrião normal. Em seis pares, cerca de 13%, tanto o rato macho como fêmea geraram embriões organicamente desenvolvidos.

Nenhum par acabou por conseguir vingar com um embrião natural transportado unicamente por ratos machos — o que pode sugerir que os embriões transplantados poderão desenvolver-se naturalmente em úteros também transplantados de machos parabiónicos apenas quando os respetivos pares fêmea estavam grávidas e poderiam fornecer substâncias sanguíneas necessárias.

A maioria dos fetos que resultaram dos parabiónicos morreu poucas horas após a sua expulsão, o que é justificado pelos autores pela interrupção precoce das gravidezes. Cerca de 50% dos fetos dos parabiónicos femininos morreu nas duas horas seguintes, enquanto que 67% dos fetos dos parabiónicos masculinos morreram.

Paralelamente, muitos dos fetos mortos dos parabiónicos masculinos apresentavam características invulgares, como morfologia da pele mais escura e placentas degeneradas ou inchadas. No total, apenas 4% dos embriões transplantados para os úteros dos parabiónicos masculinos sobreviveram.

ZAP //

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1 Comment

  1. Mau, mau, se isso ataca os humanos, lá virá mais uma razão para sustentar a guerra entre sexos que parece haver já por aí! Homens fêmeas e mulheres machos, que parece ser já a imposição de certas minorias, poderá vir a ter sucesso!

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