/

Como é que os estudantes portugueses usam a IA? Eles respondem

David Dias, Beatriz Nascimento e Lara Pereira  têm duas coisas em comum: são estudantes universitários da academia do Porto e usam programas de Inteligência Artificial (IA), nomeadamente, o ChatGPT, na sua vida académica.

O motivo pelo qual usam o ChatGPT também é o mesmo: para simplificar o estudo. “Eu utilizo o ChatGPT para simplificar uma definição ou um texto que o professor possa ter escrito, e que eu não esteja a perceber. É mais para esse tipo de coisas”, explica Beatriz Nascimento, 20 anos, aluna da Licenciatura em Ciências da Linguagem na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (UP), ao JPN.

O estudante de Engenharia Informática no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), concorda e refere que os programas de IA são úteis “para fazer tarefas repetitivas e para otimizar. Aliás, o objetivo de qualquer IA, é otimizar”, sublinha. O estudante diz ainda que outra das vantagens do uso do ChatGPT é a sua “capacidade de geração muito rápida”.

Lara Pereira, que estuda Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, menciona que, no contexto da sua licenciatura, o programa é eficaz na produção de referências a artigos e na sua compilação.

“Por exemplo, há pouco estava a fazer um trabalho e estava a tentar ver se o ChatGPT me podia ajudar [numa análise], em vez de eu estar a analisar os artigos todos”, exemplifica.

Embora Beatriz e Lara tenham sido atraídas até ao ChatGPT pela rapidez com que devolve informação, David começou a experimentar o programa “mais por uma razão investigativa, de interesse, de pesquisar como é que aquilo funcionava, como é que podia ser útil”, que relacionou com o seu gosto por “tecnologias, informática e programas”.

Perigos associados

Apesar de usarem este tipo de ferramentas, os três estudantes estão cientes dos perigos da utilização descuidada das plataformas de IA. Todos apontam para a necessidade de raciocínio crítico no uso da ferramenta, devido aos eventuais “erros” que esta comete.

Para Lara Pereira, não existem “maneiras certas” de usar o ChatGPT, mas, por outro lado, a “maneira errada é utilizar para pensar por nós e entregar trabalhos feitos só pelo ChatGPT”.

A estudante de 19 anos conhece as limitações do programa e alude ao facto de o ChatGPT não ter “dados de depois de 2021”. “Estamos em 2023, existem muitas coisas que podem mudar em dois anos”, analisa.

Da mesma forma, David Dias alerta que estas não são “máquinas criativas, nem são máquinas que substituem o trabalho mais complexo de qualquer atividade”, pelo que “não se pode confiar completamente na IA”.

Contudo, tanto David como Beatriz sabem que nem todos se dão ao trabalho de confirmar a fiabilidade da informação dada pelo programa. Na opinião de David Dias, “muitas pessoas não o fazem, há muitas pessoas que simplesmente mandam para lá uma pergunta e dificilmente vão confirmar”.

Beatriz Nascimento observa o mesmo: “Há muita gente que comete esse erro, de não ir verificar se aquilo que está a ser dito é efetivamente verdade ou não”.

Pode o robô substituir o professor?

Com a crescente evolução deste tipo de ferramentas, há quem coloque a questão de a IA poder substituir trabalhos mais complexos, como o de um professor. Todavia, quando questionados acerca dessa possibilidade, os três estudantes responderam negativamente.

David Dias reitera que a Inteligência Artificial funciona como uma ferramenta de apoio, não de substituição, e dá o exemplo da academia online Khan Academy: “Eles fizeram uma associação com a Open AI e Microsoft para integrar um chatbot dentro do seu sistema que ajudasse os alunos a estudar e entender melhor a matéria, e ajudasse os professores a fazer seguimento dos alunos. É um exemplo em que é uma ferramenta de apoio, não substitui”.

Para Lara Pereira, trata-se de uma questão de experiência. “O professor tem experiência na área e consegue dar-nos algo mais concreto. O ChatGPT não tem experiência, não existe essa parte do que nos pode ser transmitido através da aprendizagem”, conta ao JPN.

Beatriz Nascimento também valoriza o trabalho docente e refere que usa o ChatGPT quando não tem “hipótese de recorrer ao professor. Se tiver hipótese, recorro ao professor”.

Futuro da IA na Academia

Os estudantes entrevistados sabem que a IA é um instrumento que veio para ficar. Aliás, notam que é usada por grande parte do corpo académico. Pela experiência de David Dias, “hoje em dia quase ninguém [não] usa e as pessoas que não usam é por resiliência”.

Quanto a possíveis soluções para os problemas associados ao uso da Inteligência Artificial na academia, o estudante de Engenharia Informática refere que a falta de conhecimento acerca do uso destas ferramentas pode estar na raiz do problema.

Para o jovem, a resposta encontra-se na própria academia: “O mais inteligente seria, até alguns professores já o fazem, adaptarem-se a esta nova tecnologia e fazer com que os alunos saibam melhor como utilizá-la”.

A regulamentação das ferramentas de Inteligência Artificial na Universidade foi outra das questões abordadas pelos estudantes. David Dias tem algumas dúvidas: “Não estou a ver uma solução prática para isso, nem acho que evitá-la [a IA] seja o correto”.

Lara Pereira fala numa tarefa “difícil” num meio que ainda é muito recente: “No fundo, não dá bem para estabelecer limites para aquilo que o ChatGPT é benéfico ou não. Sim, claro que se deve colocar alguns limites, mas, como é algo tão novo, acho que é muito difícil de estabelecer o que é que é aceitável ou não”.

Apesar de estas serem ferramentas que estão a revolucionar o mundo académico, os estudantes acreditam que, se não as tivessem à disposição, o seu trabalho não mudaria muito.

Seria igual a antigamente, utilizava os materiais de estudo já disponibilizados pela faculdade, pesquisava mais a fundo em livros, papers, etc. Coisa que ainda faço, só que integrado agora com uma nova ferramenta”, conclui David Dias.

// JPN

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.