Daniels, S.R. and Barnes, A. (2025)

Por mero acaso, descobriu uma nova espécie, agora batizada com o seu apelido. O mais curioso é a espécie, com vários milhões de anos, ainda existir.
Um estudante da Universidade de Stellenbosch, em África do Sul, estava a passear junto a um rio quando encontrou um verme de veludo preto.
“Tinha um conhecimento básico dos vermes de veludo do Cabo, tendo encontrado um pela primeira vez na Table Mountain em 2019. O meu irmão mais velho foi incumbido pelo seu professor de zoologia, o Prof. Savel Daniels, de recolher vermes de veludo”, contou o jovem, Rohan Barnard.
Na altura, Rohan não fazia ideia de que tinha descoberto uma nova espécie de verme de veludo, agora apropriadamente designado por verme de veludo de Rohan, ou, cientificamente, Peripatopsis barnardi.
“A origem destas manchas florestais remonta ao início do Mioceno, há cerca de 23 a 15 milhões de anos, quando a região era temperada e subtropical. No entanto, durante o Mioceno tardio, a região sofreu alterações climáticas significativas, com uma diminuição da precipitação devido ao aparecimento da proto-corrente de Benguela ao longo da costa ocidental e dois eventos de elevação geotectónica”, diz Savel Daniels, autor principal do novo estudo publicado na Ecology and Evolution.
“Estes eventos resultaram num mosaico complexo de conetividade e isolamento de habitats, o que hoje conhecemos como as Cape Fold Mountains, conduzindo à especiação de especialistas em habitats como os vermes de veludo”, explica à SciTechDaily.
“Foi graças aos dados dos cidadãos cientistas que conseguimos identificar as novas espécies. Nas Cape Fold Mountains, sabemos agora que cada pico de montanha tem uma espécie endémica. Isto sugere que, em áreas não amostradas, é provável que exista uma nova diversidade adicional, à espera de ser encontrada”, diz ainda Daniels.
Mas o mais interessante é que a espécie se trata de um “fóssil-vivo”, ou seja, a espécie ainda existe nos dias de hoje. E a espécie não é uma qualquer. A sua descoberta é relevante porque os modernos vermes de veludo são vistos como uma linha de evolução separada (e colocados num filo distinto) que surgiu de forma independente de um antepassado marinho há muito esquecido — provavelmente a Hallicogenia.
“É incrível perceber que descobri um fóssil vivo“, comenta o jovem estudante. !É como se tivesse encontrado um elo perdido que nem sequer conhecíamos. Dá-me esperança que ainda haja muito para descobrir. Mas também me deixa preocupado com o futuro, com o facto de perdermos animais e plantas por extinção que nem sequer sabíamos que existiam”, alerta.