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Este Europeu está “feito” para a Inglaterra?

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Andy Rain / POOL / EPA

Quase todos os jogos realizados em Wembley, critérios distintos no duelo com a Alemanha e a grande discussão à volta do golo da vitória na meia-final.

A Inglaterra, que foi o palco da origem do futebol atual, vai estar na final de um Europeu pela primeira vez. Num Euro 2020 invulgar, disputado em 2021 e espalhado por 11 países, a seleção de futebol mais antiga do mundo teve um percurso também invulgar no torneio, até ao jogo decisivo com a Itália.

Em relação aos resultados: na fase de grupos, vitórias por 1-0 contra Croácia e República Checa, registando pelo meio um empate sem golos diante da vizinha Escócia; na fase a eliminar, 2-0 frente à Alemanha e 4-0 à Ucrânia. Ou seja, os ingleses conseguiram um registo assinalável: zero golos sofridos até às meias-finais. E chegam à final apenas com um golo sofrido (a Dinamarca inaugurou o marcador, na meia-final).

Mas esse percurso invulgar está também relacionado com os países onde a Inglaterra jogou. Em sete jogos (estamos já a incluir a final), a Inglaterra disputa seis em casa, no Wembley. A única exceção aconteceu nos quartos-de-final, quando os ingleses jogaram em Roma – e curiosamente conseguiram o melhor resultado, goleando a Ucrânia por 4-0.

Na fase de grupos, várias seleções estiveram sempre em casa. Aliás, as quatro seleções que chegaram às meias-finais da prova jogaram no seu país os três compromissos da fase de grupos: Itália, Espanha, Inglaterra e Dinamarca. A diferença foi depois: a partir dos oitavos-de-final, Itália, Espanha e Dinamarca nunca mais jogaram em casa.

A definição dos estádios já havia ditado que o vencedor do grupo onde estava a Inglaterra iria jogar novamente em Wembley, nos oitavos-de-final. E ficou também definido que as meias-finais e a final seriam igualmente em Wembley.

A Itália, que também vai estar na final, vai fechar o torneio com 43% das suas partidas em Roma; a outra finalista, a Inglaterra, jogará em Wembley 86% das vezes.

Arbitragem a favor dos ingleses?

No grande jogo dos oitavos-de-final, que envolveu Inglaterra e Alemanha, não houve qualquer decisão de arbitragem duvidosa, daquelas que influenciam diretamente o resultado (aliás, isso praticamente não tinha acontecido até às meias-finais). Mas o critério das decisões do árbitro, das “faltinhas”, esteve a tender para o lado inglês em muitos momentos.

E depois surgiu aquela grande penalidade. Na meia-final, contra a Dinamarca – num jogo em que a Inglaterra estava a ser claramente superior e já justificava o segundo golo.

Decorria o prolongamento quando Sterling acelerou e entrou na área junto a Joakim Mæhle e a Mathias Jensen; caiu, foi assinalada falta, mas foi preciso analisar várias repetições para ver um toque de Mæhle na perna de Sterling. Um toque ligeiro, quase de “raspão”, mas que o vídeo-árbitro também entendeu que era suficiente para a grande penalidade. E havia duas bolas em campo nessa jogada.

O selecionador dinamarquês contou que tinha avisado o quarto árbitro que estava uma segunda bola naquela zona e o avançado Martin Braithwaite disse, depois da derrota: “A maneira como perdemos torna ainda mais difícil de entendermos esta derrota. Tenho de ter cuidado com o que digo“.

Chegaram críticas de muitos países e uma das mais visíveis foi escrita em Espanha, onde no jornal Marca lê-se: “Makkelie assinalou um penálti inexistente e meteu a Inglaterra na final”. O jornal italiano Corriere dello Sport também destaca que a Inglaterra é finalista “com ajuda do árbitro”.

José Mourinho foi claro, em declarações à rádio Talksport: “Aquilo nunca seria grande penalidade”.

E, em relação às duas bolas em campo, os próprios jornais ingleses admitem que o árbitro poderia ter interrompido o jogo – fica a curiosidade de o árbitro da meia-final entre Inglaterra e Dinamarca, Danny Makkelie, ser o mesmo do Sérvia-Portugal, quando Cristiano Ronaldo marcou um golo na última jogada mas a equipa de arbitragem disse que a bola não entrou.

Por fim, os adeptos ingleses, que têm assobiado os hinos nacionais dos adversários e o gesto de ajoelhar para combater o racismo; e alguém até apontou um laser na direção dos olhos de Kasper Schmeichel, quando o guarda-redes da Dinamarca estava pronto para travar a grande penalidade de Harry Kane.

A final do Euro 2020 deverá ter dois tipos de adeptos: os ingleses contra todos os outros.

Nuno Teixeira, ZAP //

4 Comments

  1. Isto de futebol está cada vez mais podre e duvidoso de como se movimentam tantos milhões à sua volta a sua origem e tantos interesses em jogo!

  2. Não digo que o Europeu esteja feito para dar a vitória à Inglaterra. Mas parece que houve a intenção de empurrar a Inglaterra para a final de Wembley.
    A Inglaterra merecia um lugar na final. Jogou mais e melhor que a Dinamarca. Mas num desempate por penalties tudo pode acontecer – que o diga a França.
    Aquele lance que proporcionou o 2×1 veio mesmo a calhar. Duas bolas em campo (ao lado uma da outra), um encosto tão ligeiro mas o suficiente para Sterling se atirar para o chão e aí está. O VAR alinha no golpe.

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