Uma série de artigos publicados na revista científica The Lancet revela que a propaganda da indústria de leite em pó contém dados enganosos e compromete a saúde e os direitos de mulheres e crianças.
Segundo o professor Nigel Rollins, cientista da Organização Mundial da Saúde e autor de um artigo sobre comércio de leite em pó, estes estudos destacam o vasto poder económico e político das grandes empresas, bem como graves falhas de políticas públicas que impedem milhões de mulheres de amamentar seus filhos.
Os estudos mostram que as ações das indústrias de laticínios e fórmulas lácteas aumentam os desafios como a ansiedade em relação à amamentação e aos cuidados infantis.
O volume de vendas de produtos lácteos infantis chega aos 55 mil milhões de euros por ano.
Rollins defende que são necessárias ações em diferentes áreas da sociedade para ajudar as mães a amamentar o tempo que quiserem, juntamente com esforços para combater as táticas de venda de leite em pó.
A OMS reforça que a amamentação oferece imensos benefícios a bebés e crianças pequenas, fornecendo energia e nutrientes, reduzindo os riscos de infecção e diminuindo as taxas de obesidade e doenças crónicas na vida adulta.
No entanto, globalmente, apenas cerca de 50% dos recém-nascidos é amamentado na primeira hora de vida, e menos de metade dos bebés com menos de seis meses recebem apenas leite materno — conforme recomenda a OMS.
Dadas as contribuições significativas da amamentação para a saúde, os estudos agora publicados recomendam um apoio muito maior ao aleitamento nos sistemas de saúde e proteção social, incluindo a licença maternidade remunerada.
Segundo estes estudos, atualmente, cerca de 650 milhões de mulheres carecem de proteção adequada à maternidade.
A série de artigos, publicada esta semana pela revista The Lancet, explica como o marketing de leite em pó explora a falta de apoio ao aleitamento materno por parte dos governos e da sociedade, enquanto faz uso indevido das políticas de género para vender os seus produtos.
Isso inclui enquadrar a defesa da amamentação como um julgamento moralista, ao mesmo tempo que apresenta a fórmula láctea como uma solução conveniente e autónoma para as mães que trabalham.
As conclusões dos estudos apontam que além de acabar com as táticas de marketing exploradoras e a influência da indústria, são necessárias ações mais amplas nos locais de trabalho, saúde, governos e comunidades.
As iniciativas devem apoiar efetivamente as mulheres que desejam amamentar, de modo que se torne uma responsabilidade social coletiva, em vez de penalizar as mães.
As proteções à maternidade devem ser estendidas a mulheres que trabalham em profissões liberais, que atualmente estão excluídas desses benefícios.
Os autores dos estudos pedem também o reconhecimento formal da contribuição do trabalho não remunerado das mulheres para o desenvolvimento nacional.
Globalmente, estima-se que as mulheres realizem três quartos de todo o trabalho não remunerado de cuidados familiares — três vezes mais que os homens — cerca de um terço do Produto Interno Bruto de um país.
A expansão da formação de profissionais de saúde sobre amamentação é fundamental, afirmam os documentos, para que possam oferecer aconselhamento qualificado aos pais antes e depois do nascimento.
ZAP // ONU News
Neste caso nota-se que afinal ainda à muitos a mamar, só que já não são bebés.
No seu comentário também se nota que não sabe escrever.