A esquizofrenia pode ter uma culpada improvável: a mãe

Um novo estudo confirmou o papel crucial dos níveis maternos de vitamina D no desenvolvimento das células cerebrais que produzem dopamina, a substância associada à esquizofrenia.

Em fevereiro, um estudo sugeriu que a vitamina D estava associada a um risco reduzido de tentativas de suicídio entre veteranos dos EUA. Agora, a mesma vitamina volta às luzes da ribalta, com uma equipa de investigadores a argumentar que as origens da esquizofrenia podem estar associadas à vitamina D da mãe.

Os investigadores utilizaram a tecnologia de imagiologia molecular para confirmar o papel crucial dos níveis maternos de vitamina D no desenvolvimento das células cerebrais que produzem dopamina, a substância química que faz o corpo sentir-se bem.

Esta descoberta permite compreender melhor os mecanismos subjacentes a perturbações do desenvolvimento neurológico como a esquizofrenia, escreve o site New Atlas.

A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica grave, crónica e incapacitante. Afeta de forma profunda a forma de pensar da pessoa, a sua vida emocional e o seu comportamento em geral.

A hipótese dopaminérgica da esquizofrenia foi uma das primeiras teorias neurobiológicas para esta doença. Esta teoria sugere que um desequilíbrio de dopamina é responsável pelos sintomas esquizofrénicos. Por outras palavras, a dopamina desempenha um papel no controlo do nosso sentido da realidade, e uma quantidade excessiva ou insuficiente pode causar delírios e alucinações.

Pensa-se que a exposição a fatores de risco para a esquizofrenia durante o desenvolvimento embrionário altera a forma como os circuitos da dopamina se formam no cérebro.

Estudos anteriores já tinham descoberto que os baixos níveis de vitamina D materna são um desses fatores. A equipa de cientistas da University of Queensland baseou-se nisto para desenvolver a sua própria pesquisa. Os investigadores descobriram que a vitamina D não só afetava a diferenciação celular, como também a estrutura dos neurónios.

“O que descobrimos foi que o processo de diferenciação alterado na presença de vitamina D não só faz com que as células cresçam de forma diferente, mas também recruta maquinaria para libertar dopamina de forma diferente”, disse Darryl Eyles, autor correspondente do estudo.

As “máquinas” são neurites. Os cientistas verificaram que o número de neurites aumentou significativamente e que a distribuição das proteínas responsáveis pela libertação de dopamina foi alterada.

De seguida, os autores do novo estudo analisaram a forma como a captação e a libertação de dopamina se alteravam na presença ou ausência de calcitriol.

Os investigadores criaram neurónios semelhantes à dopamina, com e sem a hormona calcitriol, que se liga e ativa o recetor da vitamina D no núcleo da célula. Os cientistas verificaram que a libertação de dopamina era aumentada nos neurónios cultivados na presença de calcitriol.

“Esta é uma prova conclusiva de que a vitamina D afeta a diferenciação estrutural dos neurónios dopaminérgicos”, explicou Eyles, citado pelo New Atlas. Os resultado do estudo foram publicados, em abril, na revista Journal of Neurochemistry.

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