Surpreendentemente, a espionagem industrial pode ter os seus benefícios para a humanidade, nomeadamente para o desenvolvimento económico.
No século XVIII, a Bélgica foi dos primeiros países a industrializar-se após o Reino Unido, tudo graças à espionagem industrial. Lieven Bauwens foi a personalidade responsável por este feito. O espião industrial belga foi enviado para Inglaterra e conseguiu trazer consigo os projetos das máquinas britânicas e ainda alguns trabalhadores especializados.
Quando chegou à Bélgica, montou em Gent a sua própria fábrica têxtil com a ajuda daquilo (e daqueles) que trouxe do Reino Unido. Algumas decisões menos acertadas acabaram por levá-lo à falência, mas o seu empreendedorismo despoletou uma revolução industrial no resto da Europa.
O fenómeno também se alastrou aos Estados Unidos, onde o imigrante britânico Samuel Slater levou tecnologia roubada no seu país natal, para abrir uma fábrica têxtil. Face a isto, o Reino Unido tentou travar o problema, tornando ilegal a emigração de trabalhadores especializados e a exportação de maquinaria.
Mas de que forma é que a espionagem industrial pode ser útil para o crescimento económico? Simples. De acordo com o OZY, alguns países mais humildes podem desenvolver-se rapidamente a nível económico e tecnológico ao roubarem as inovações de outras nações.
Então, a espionagem industrial serviu como base para um crescimento económico significativo em vários países ocidentais. Ironicamente, são agora estes mesmo países que se preocupam com este tipo de espionagem, desta feita por parte de países asiáticos, como por exemplo a China.
“Se observarmos a perspetiva da humanidade, aquilo que é melhor para todos nós, muitas vezes a espionagem industrial e económica é uma força benéfica“, reconhece o professor universitário Klaus Solberg Søilen.
Acusações da Huawei roubar tecnologia norte-americana é apenas mais um episódio de uma saga que dura já há centenas de anos. Contudo, agora são os países asiáticos que lideram várias inovações e aplicam a lei da propriedade intelectual de forma a que países menos desenvolvidos lhes roubem a tecnologia.
Segundo estudos económicos recentes, se durante a Guerra Fria, a Alemanha Oriental não tivesse feito espionagem industrial à Alemanha Ocidental, a sua diferença entre produtividade seria 9% maior até 1989.
Contudo, a nível particular, a espionagem industrial consegue ser bastante danosa. “Muitas vezes, é prejudicial para uma nação e, em particular, para uma empresa“, explica Søilen. Assim sendo, apesar de ter benefícios para a humanidade, pode ser ruinosa para alguns países e empresas.