O escalo-do-Mira, um peixe que só existe na bacia do rio Mira, poderá já estar extinto, vítima das alterações climáticas, revela a associação ambientalista Zero, que acusa o Governo de não preservar valores naturais ameaçados.
A informação da possível extinção, divulgada esta sexta-feira em comunicado, foi obtida pela própria associação no local, ao constatar que a ribeira do Torgal, curso de água da bacia hidrográfica do Mira, secou quase totalmente.
De acordo com a informação da Zero, o único local que não terá secado em toda a bacia hidrográfica foi o pego das Pias, podendo ter sobrevivido aí alguns exemplares, embora no local existam espécies exóticas invasoras “que tornam improvável qualquer cenário que não a extinção da espécie”.
Tendo em conta que, “inexplicavelmente, a espécie terá deixado de ser alvo de um programa de reprodução em cativeiro para prevenir precisamente situações previsíveis como esta”, a associação alertou o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, para a “tragédia ambiental” e pediu ações urgentes para avaliar se ainda existem alguns exemplares do escalo-do-Mira (Squalius torgalensis), diz-se no comunicado.
A Zero sublinha que o peixe prateado e azulado — que em adulto pode medir até 20 centímetros de comprimento e cuja dieta é principalmente composta por pequenos invertebrados aquáticos — trata-se de uma espécie única no mundo, que só existe em Portugal, para argumentar que “o país tem a responsabilidade total quanto à sua conservação”.
“Incompreensível inação”das autoridades
Na informação ao ministro, a associação ambientalista notou que, caso tenha havido mesmo uma extinção, se está perante uma “incompreensível inação” das autoridades, em particular do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mais grave por se tratar de uma zona dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
É também uma situação que representa uma política pública “presa por arames”, em que “reina a desatenção completa em relação à conservação dos valores naturais e em que a contínua falta de definição de prioridades só poderá ter como resultado o futuro agravamento do estado de conservação das espécies e dos seus habitats”.
Crítica, a Zero fala de um caso “em que se falhou em toda a linha”, faltando um programa de monitorização sistemática dos valores naturais ameaçados, um programa sólido de reprodução de espécies aquáticas em cativeiro, e uma política de gestão dos recursos hídricos adequada face aos problemas.
Mais de 50% das espécies de água doce ameaçadas
Em julho último, aquando da apresentação do “Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos”, os especialistas alertaram que mais de metade das espécies de peixes de água doce existentes em Portugal estão ameaçadas de extinção.
Filomena Magalhães, coordenadora do projeto, afirmou-se então preocupada com os endemismos lusitanos, as espécies que não existem em mais nenhum local do mundo e que apresentam praticamente todos risco de extinção extremo ou muito elevado.
No Sistema Nacional de Informação Peixes de Água Doce e Diádromos (SNIPAD) o escalo-do-Mira surge classificado como “em perigo”, estando proibida a sua pesca.
Já em 2010, uma notícia do Diário de Notícias alertava que o escalo-do-Mira estava em vias de extinção e que durante o verão apenas sobrevivia nos pegos, com especialistas a alertar para o perigo de desaparecimento da espécie.
No comunicado, a Zero exige medidas e reafirma que o essencial é que o Governo se comprometa com a prossecução dos objetivos de transformar pelo menos 30% da superfície terrestre e marinha da Europa em áreas protegidas geridas de forma eficaz, parte com proteção estrita, e melhorar o estado de conservação ou a tendência de, pelo menos, 30% das espécies e habitats protegidos da União Europeia que não se encontram atualmente em estado favorável.
Escalo-de-mira não é o único nativo em perigo
De acordo com o Projeto Peixes Nativos, o pequeno parente da carpa e do pimpão não é a única espécie nativa ameaçada.
Das 21 espécies de ciprinídeos e leuciscídeos nativos, sete são endémicas do nosso país: ruivaco (Achondrostoma oligolepis), ruivaco-do-Oeste (Achondrostoma occidentale), boga-portuguesa (Iberochondrostoma lusitanicum), boga-de-Lisboa (Iberochondrostoma olisiponensis), boga-do-Sudoeste (Iberochondrostoma almacai), escalo-do-Mira (Squalius torgalensis) e escalo-do-Arade (Squalius aradensis).
A conservação dos peixes de água doce nativos de Portugal está seriamente ameaçada por múltiplos fatores que, não raramente, têm um efeito simultâneo e cumulativo nos cursos de água: poluição, destruição de habitats, escassez de água, proliferação de espécies exóticas, e perda de conectividade por construção de barreiras intransponíveis (barragens e açudes).
Para equilibrar o desaparecimento da espécie, já foi tentada a reprodução em cativeiro para posterior repovoamento da bacia hidrográfica do Mira. No entanto, é complicado, uma vez que os animais não podem ser libertados em estado precoce porque são “comidos” de imediato; já se ficarem muito tempo em cativeiro, ficam condicionados à forma como são alimentados e têm depois dificuldade em procurar alimento e também em fugir de predadores.
ZAP // Lusa
Portanto nos anos 80 e 90 do século passado(entre 1980 a 1997), quando era miúdo e ia pescar também cheguei apanhar destes peixes na mesma altura também os havia no Rio Tejo bem como umas ostras pretas de água doce que chegavam a crescer até um palmo e até mais, alguns anos atrás também os vi num pequeno rio perto de uma Cidade Localizada no distrito de Santarém que por questões de segurança não convém dizer o local mas a DGF deve ter conhecimento. Esses peixes geralmente sobem dos rios maiores para os mais pequenos para fugir dos seus predadores de maior porte e desovarem, preferem as águas correntes e limpas não conseguem viver em águas poluídas ao contrário das Carpas , pimpões e fataça.