Eslováquia à beira de guerra civil. Primeiro-ministro polaco denuncia ameaças de morte

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Robert Fico

O primeiro-ministro da Eslováquia continua entre a vida e a morte depois de ter sido baleado e há receios de que o país mergulhe numa guerra civil num momento de alta tensão na Europa, com preocupações também na Polónia.

O primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, usou a rede social X, antigo Twitter, para denunciar ameaças de morte que tem recebido depois de o homólogo eslovaco, Robert Fico, ter sido atingido com vários tiros.

Tusk partilha uma publicação onde um utilizador do X nota que os eslovacos deram “um exemplo do que deveria ser feito com Donald Tusk”. “Ontem houve muito disto. Visão da Polónia”, escreve Tusk na rede social.

A ameaça terá surgido no âmbito da construção de um grande aeroporto no centro da Polónia, com a ideia de que se Tusk se opuser à obra, deve ter o mesmo destino de Fico.

“Onda de raiva” toma conta da Eslováquia

Fico continua entre a vida e a morte num hospital da Eslováquia, numa altura em que o país vive um clima de quase guerra civil, com as divisões políticas mais radicalizadas do que nunca.

O ataque veio agravar uma situação já de si tensa, muito alimentada pelo próprio Fico que é um político populista e pró-Putin, com um discurso por vezes agressivo, e que sempre acusou a oposição de trair os interesses da Eslováquia e de estar a servir os interesses do Ocidente.

O primeiro-ministro eslovaco é mesmo apontado por alguns analistas políticas como vítima e culpado pelo ataque de que foi alvo.

Após o tiroteio, “uma onda de raiva” tomou conta da coligação governamental, como nota o jornal Politico.

E o ministro do Interior da Eslováquia, Matus Sutaj Estok, alertou que o país pode estar à beira de uma guerra civil devido às tensões políticas.

Numa conferência de imprensa no hospital onde Fico está hospitalizado, Estok revelou que uma investigação inicial concluiu que o ataque teve “uma clara motivação política”, o que não ajuda em nada a acalmar os ânimos.

O ministro também sublinhou que há “comentários de ódio” nas redes sociais que estão a agravar as tensões. “Vamos parar isto de imediato”, apelou.

A presidente da Eslováquia ainda em exercício, Zuzana Čaputová, co-fundadora do principal partido da oposição, o Eslováquia Progressista (PS na sigla original em eslovaco), já apelou à calma, convidando todos os partidos para analisar a actual situação do país.

Esta posição foi assumida num comunicado conjunto com Peter Pellegrini, um populista pró-Rússia, que lhe vai suceder na Presidência, para enviar “um sinal de reconciliação neste momento tenso”.

Somos um país, uma nação, e juntamente com as nossas minorias nacionais, formamos uma única comunidade humana”, destaca o comunicado de Čaputová e Pellegrini que é citado pelo Politico.

Um pedido dos jornalistas aos políticos

Mas o tom político é de troca de acusações que só ajudam a agravar o ódio latente.

O vice-presidente do Parlamento, Ľuboš Blaha, do partido Smer de Fico, “alegou, sem fornecer provas, que o homem que alegadamente disparou contra o primeiro-ministro tinha sido politicamente activo em eventos dirigidos pelo PS“, refere o Politico.

O autor do ataque foi identificado como Juraj Cintula, um homem de 71 anos, escritor e alegado ex-pacifista, com ligações a milícias pró-Rússia e que terá escrito livros e comentários contra imigrantes e a comunidade cigana.

“Nós [parlamentares da coligação no poder] somos os próximos alvos“, apontou ainda Blaha que já tinha acusado a oposição de ter sido responsável pelo ataque.

Já o deputado Andrej Danko do Partido Nacional Eslovaco (SNS), de extrema direita, culpou os média independentes pela tentativa de assassinato, referindo-se a alguns jornalistas como “porcos nojentos”.

No meio deste clima tenso, os meios de comunicação social do país viram-se obrigados a fazer uma declaração conjunta, onde condenam o ataque e “o caminho do ódio” que dizem estar a tomar conta da Eslováquia e a levá-la para “o lugar mais sombrio do mapa”.

“Apelamos aos políticos para que não dividam ainda mais a nossa sociedade e não comecem imediatamente a procurar os culpados. Agora é a hora de nos unirmos”, escrevem ainda.

Mas o cientista político Juraj Marušiak da Academia Eslovaca de Ciências está preocupado porque acredita que este ataque “levará a uma radicalização ainda maior da sociedade”, como diz ao Politico.

“Não creio que as nossas elites políticas sejam capazes de enviar um sinal de que isto não pode continuar, de que este não é o caminho a seguir“, conclui.

Susana Valente, ZAP //

6 Comments

  1. Desconfio que vamos assistir a mais episódios deste género, até pelo que se tem visto na Alemanha. A Europa está a regressar aos velhos tempos de há 100 anos e mais. Andar à porrada é fixe! Quem vai aproveitar é o império russo, além de uma pequenina elite neandertalense que anda a sair das cavernas.

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  2. É isto que a direita radical e oportunista pretende, com o seu discurso de ódio e “necessidade de limpeza” (politica e racial): criar o caos para se auto proclamar salvadora da(s) pátria(s).
    Tal e qual como fez Hitler.
    Preparemo-nos para combater de todas as formas e por todos os meios os devaneios destes assassinos tresloucados, disfarçados de “patriotas”.
    Não esquecendo que o maior interessado na convulsão da Europa nao está a Oriente, mas sim do outro lado do Atlantico (ah pois é…)

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  3. É isto que a direita radical e oportunista pretende, com o seu discurso de ódio e “necessidade de limpeza” (politica e racial): criar o caos para se auto proclamar salvadora da(s) pátria(s).
    Tal e qual como fez Hitler.
    Preparemo-nos para combater de todas as formas e por todos os meios os devaneios destes assassinos tresloucados, disfarçados de “patriotas”.
    Não esquecendo que o maior interessado na convulsão da Europa nao está a Oriente, mas sim do outro lado do Atlantico (ah pois)

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  4. Portanto,
    Há um mundo inteiro a perder as estribeiras e Vocês acham mesmo que o problema é dos extremos.. É isso?
    O problema é o mundo de fantasia em que os adeptos da ultra liberdade vivem.
    Há uma linha ponderada que temos que seguir para o bom de todos, claro.
    Mas há algumas balizas governativas, ideológicas e sociais que não podem deixar de existir.
    Essas balizas desapareceram, os conceitos que se defendem são permanentemente subvertidos nas acções. E depois acha-se que o mundo se vai manter impávido e sereno?
    Impossível.
    Estas cosias vão acontecer ali e em todo o lado.
    E tenhamos consciência que, tal como a história faz questão de nos lembrar, basta quase sempre apenas uma pequena faisca para que tudo exploda.
    Na minha versão extremista diria, já se faz tarde. Vai ser duro, mas não vejo outra solução.

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