O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, está estável, após ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica, mas continua em “estado muito grave”, após ter sido baleado, esta quarta-feira. O que terá motivado este atentado?
O primeiro-ministro eslovaco Robert Fico foi baleado, esta quarta-feira, enquanto se encontrava com apoiantes em Handlova, a cerca de 150 quilómetros de Bratislava.
Segundo o vice-primeiro-ministro e uma fonte hospitalar, na manhã desta quinta-feira, apesar de estável, após uma intervenção cirúrgica, o estado de saúde de Robert Fico mantém-se “muito grave”.
“Esta noite, os médicos conseguiram estabilizar a condição do paciente. Infelizmente, o estado continua muito grave, porque as lesões são complicadas”, disse vice-primeiro-ministro, que é também ministro da Defesa, Robert Kalinak.
Roberto Fico foi atingido no estômago por vários tiros, disparados junto da Casa da Cultura, na cidade de Handlova.
Robert Fico ha formalmente e pubblicamente respinto l’Accordo pandemico globale dell’#OMS e ha ripetutamente affermato che avrebbe smesso di inviare armi all’#Ucraina.
Tutto ciò accade solo quando ti opponi alla mafia. pic.twitter.com/w3whLSt9qM
— Christian Di Marco (@christian_fsi) May 16, 2024
O autor dos disparos contra Fico é um homem de 71 anos, natural da cidade de Levice, no sudeste do país, que foi detido pela polícia no local do ataque. O suspeito foi identificado pelos media eslovacos como um escritor local.
O ministro do Interior, Matus Sutaj Estok, revelou que o autor, que foi detido após o ataque, admitiu que o crime teve motivações políticas.
O governante revelou que o homem não pertence “a nenhum partido extremista, nem de esquerda nem de direita” e que era um ‘lobo solitário’ (um atacante que atua sozinho).
Quem é Robert Fico?
O advogado Robert Fico, de 59 anos, está a cumprir a terceira passagem pelo cargo máximo do executivo eslovaco.
Depois de ter sido primeiro-ministro de 2006 a 2010 e 2012 e 2018, Fico voltou a conquistar o lugar nas eleições de outubro de 2023.
Fico é descrito como um populista de esquerda pró-russo, apesar de se ter coligado com a extrema-direita, para vencer as últimas eleições.
O primeiro mandato de Robert Fico como primeiro-ministro (2006-2010) ficou por passos importantes da Eslováquia na relação com a Europa: em 2007, entrou para o espaço Schengen; e desde 2009 que é membro da zona euro (€).
Contudo, tal como foi o anterior, o atual mandato de Robert Fico tem sido marcado por várias polémicas.
Logo após ser eleito, cessou a entrega de ajuda militar à Ucrânia.
O que se passa na Eslováquia?
Em 2018, a Eslováquia ficou em choque com a morte de um jovem jornalista, que investigava ligações entre a máfia e o poder político, e corrpução.
Jan Kuciak foi o primeiro jornalista assassinado na história da Eslováquia. Foi alvejado com dois tiros no peito por um profissional no sótão da sua casa, assim como a sua noiva, morta na cozinha com um tiro na cabeça.
O jornalista tinha apenas 27 anos e passou os últimos dias da sua vida a investigar um alegado desvio de fundos da União Europeia destinados ao leste do país, assim como a chegada de empresários italianos à mesma zona, ligados à máfia.
O duplo crime, ocorrido a 21 de fevereiro de 2018 em Velká Maca, nos arredores de Bratislava, chocou a Eslováquia, que se sentiu motivada a fazer justiça. Este caso levaria à demissão do primeiro-ministro, Robert Fico.
O suspeito de ter ordenado o crime, o empresário Marian Kocner, terá ameaçado o jornalista após a publicação de um texto sobre os seus negócios.
Em 2020, a justiça eslovaca condenou o assassino de Kuciak, Miroslav Marcek, um antigo soldado, a 23 anos de prisão.
Este episódio foi o despoletar de um clima de grande instabilidade no país, que agora escalou com este ataque ao primeiro-ministro.
Na conferência de imprensa após o ataque, o ministro do Interior Sutaj Estok, apelou ao fim da propagação de ódio, temendo que o país esteja à beira de uma guerra cilvil: “Apelo aos cidadãos, aos jornalistas e a todos os políticos para que parem de espalhar o ódio (…) Estamos à beira de uma guerra civil“.
ZAP // Lusa