Escavações do metro do Rio de Janeiro revelam objetos arqueológicos do século XIX

Peças de porcelana, enfeites de jardim, pratos, talheres, moedas e até penicos fazem parte dos novos achados arqueológicos descobertos durante a perfuração para as obras da linha 4 do metro do Rio de Janeiro, no Brasil.

As últimas escavações, realizadas nos bairros Ipanema e Leblon – hoje bairros nobres de classe média-alta – ajudam a contar um pouco da história das primeiras chácaras que ali existiam, incluindo, entre elas, a do jurista português António Salema.

“Fazemos a monitorização arqueológica das escavações e, a qualquer momento, onde há uma intervenção no solo, a equipa é mobilizada para retirar esse material”, contou à Lusa Cláudio de Mello, o arqueólogo responsável pelo trabalho.

Entre os achados mais significativos está uma ampola com o líquido original preservado, além de quatro penicos de metal, cobertos por uma camada de esmalte, inclusive com resíduos orgânicos, que foram encaminhados para a análise química.

“Na ampola, aquilo pode ser um remédio ou mesmo um veneno“, tenta prever o arqueólogo, a ressaltar que o conteúdo dos penicos pode levar ainda a descobertas sobre doenças parasitárias que afetavam a sociedade da época.

Outra peça que pode ter valor histórico significativo é um artefacto de cerâmica cuja origem se suspeita ser de quilombolos, as comunidades formadas por ex-escravos que fugiam das fazendas.

“Há suspeita de ser quilombola, mas só podemos afirmar após aprofundar a análise, com uma documentação maior. Esse tipo de material é muito susceptível de se ir espalhando, com obras, passar de um local para outro, então seria leviano falar baseado num pedacinho”, disse.

O trabalho ajuda ainda a identificar os produtos produzidos na Europa nos século XIX e início do XX.

pradodemello / Facebook

Uma selfie do arqueólogo Claudio Prado de Mello, tirada  no local da recente descoberta arqueológica do Rio de Janeiro

Uma selfie do arqueólogo Claudio Prado de Mello, tirada no local da recente descoberta arqueológica no Rio de Janeiro

Muitos dos objectos encontrados coincidem com os que são encontrados em obras com o metro da Holanda, por exemplo.

“Quando vemos o catálogo do que foi encontrado no metro de Amesterdão, nas escavações para a construção da linha, é praticamente idêntico ao que temos encontrado”, conta Cláudio de Mello, citando as garrafas de stoneweare, de uma marca alemã de água mineral, entre os achados em comum.

Outro material recolhido que animou a equipa foi uma peça de louça branca cremada, de cerca de 70 centímetros, que se acredita ser uma peça de jardim ou um suporte de luminária, possivelmente de origem portuguesa.

O pesquisador acredita ainda haver hipóteses de encontrar um cemitério indígena na região, uma vez que muitas etnias enterravam os seus mortos abaixo de 1,5 metros de profundidade, nível ainda não atingido até ao momento.

“A qualquer momento podemos fazer novas descobertas. Sabemos que em Ipanema e Leblon viviam pelo menos duas tribos, que já foram citadas por cronistas da época”, observou.

Os bairros de Ipanema e Leblon foram ocupados sistematicamente, com venda de loteamentos, apenas a partir de meados do século XIX.

Antes, a região foi ocupada por alguns poucos proprietários de chácaras, que afugentaram os indígenas que viviam anteriormente no terreno.

A partir do início do século XX, a região recebeu um elétrico, cujos trilhos e restos de estruturas figuram entre os achados.

/Lusa

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