Ao contrário do que se pensava, a erupção vulcânica não foi uma das causas do colapso do Império Romano do Oriente. Pelo contrário, a população e a economia cresceram nesta altura.
Porque é que os impérios caem é uma questão que fascina muitas pessoas. Mas na procura de uma resposta, a imaginação pode correr solta.
Nas últimas décadas, diversas teorias sugerem que a ascensão e queda de impérios antigos, como o Império Romano, tem origem nas alterações climáticas ou na propagação de certas doenças.
Outras teorias sugerem que a queda dos impérios pode estar relacionada com catástrofes naturais, como terá sido o caso da gigantesca erupção vulcânica que afetou o planeta em 536 — que terá sido o pior ano da História da Humanidade.
Esta erupção criou um véu de poeira que bloqueou o sol em certas regiões do mundo. “Foi o começo de um dos piores períodos para estar vivo“, diz o arqueólogo e historiador medieval Michael McCormick.
Esta primeira erupção, combinada com uma série de erupções vulcânicas na década seguinte, terá provocado uma diminuição da temperatura global, explicam Lev Cosijns, investigador da Universidade de Oxford, e Haggai Olshanetsky, professor de História na Universidade de Varsóvia, num artigo no The Conversation.
Entre 541 e 544, registou-se também a primeira e mais grave ocorrência documentada da peste justiniana no Império Romano do Oriente (também referido como Império Bizantino), na qual morreram milhões de pessoas.
Um estudo, publicado em 2005 na revista Dumbarton Oaks Papers mostra que não há provas textuais dos efeitos do véu de poeira no Mediterrâneo oriental e há um amplo debate sobre a extensão e a duração da peste justinianéia.
Mas, apesar disso, muitos académicos afirmam que as alterações climáticas e o surto de peste foram catastróficos para o Império Romano do Oriente.
Uma nova investigação, publicada em novembro, mostra no entanto que estas afirmações são incorretas. Foram feitas com base em achados isolados e pequenos estudos de caso que foram projetados para todo o Império Romano.
A utilização de grandes conjuntos de dados de vastos territórios anteriormente governados pelo Império Romano apresenta um cenário diferente.
Os resultados revelam que não houve declínio no século VI, mas sim um novo recorde de população e comércio no Mediterrâneo Oriental.
Os autores utilizaram dados em micro e em grande escala de vários países e regiões. Os dados em microescala incluíram a análise de pequenas regiões e a indicação do momento em que ocorreu o declínio nessa região ou sítio.
Foram reexaminados estudos de caso, como o sítio da antiga cidade de Elusa, no noroeste do deserto de Negev, no atual Israel. Investigações anteriores afirmavam que este sítio tinha entrado em declínio em meados do século VI.
Uma reanálise do carbono 14, um método para verificar a idade de um objeto feito de material orgânico, e dos dados cerâmicos utilizados para datar o sítio mostrou que esta conclusão era incorreta. O declínio só começou no século VII.
Os dados em grande escala incluíam novas bases de dados compiladas a partir de levantamentos arqueológicos, escavações e achados de naufrágios.
As bases de dados de levantamentos e escavações, compostas por dezenas de milhares de sítios, foram utilizadas para mapear as mudanças gerais na dimensão e no número de sítios em cada período histórico.
A base de dados de naufrágios mostrava o número de naufrágios por cada meio século. Esta base de dados foi utilizada para realçar a mudança no volume do comércio naval.
Evolução do comércio naval (150-750)
Os resultados mostraram que existia uma elevada correlação no registo arqueológico para numerosas regiões, abrangendo os atuais Israel, Tunísia, Jordânia, Chipre, Turquia, Egito e Grécia. Verificou-se também uma forte correlação entre os diferentes tipos de dados.
Tanto os estudos de caso mais pequenos como os conjuntos de dados maiores mostraram que não houve diminuição da população ou da economia no Império Romano do século VI.
De facto, parece ter havido um aumento da prosperidade e da demografia. O declínio ocorreu no século VII, pelo que não pode ser relacionado com alterações climáticas súbitas ou com a peste que ocorreu mais de meio século antes.
Parece que o Império Romano entrou no século VII no auge do seu poder. Mas os erros de cálculo dos romanos e o seu fracasso contra os seus adversários persas conduziram toda a região a uma espiral descendente. Isto deixou os dois impérios fracos e permitiu a ascensão do Islão.
Isto não quer dizer que não tenha havido mudanças no clima durante este período em algumas regiões do mundo. Por exemplo, houve uma mudança visível na cultura material e um declínio geral e abandono de sítios em toda a Escandinávia em meados do século VI, onde esta mudança no clima foi mais extensa.
E a atual crise climática está em vias de provocar alterações muito maiores do que as observadas no passado. O afastamento acentuado das flutuações ambientais históricas tem o poder de mudar irreversivelmente o mundo tal como o conhecemos.