Dois metros de altura, 18 anos, fresquinhos. Clara Silva é uma das maiores promessas do basquete português e europeu. O ZAP falou com a poste portuguesa, que partiu sozinha para os EUA este verão, atrás do sonho.
Aos 16 anos, os seus dois metros de altura já chamavam à atenção em Espanha, onde disputava o piso entre graúdas, com os seniores do Unicaja.
Chegou com 14 anos aos sub-18 do clube espanhol, vinda do Imortal. A família acompanhou-a a Málaga: a mãe, Sofia Vieitas, também jogava; o pai Valter Silva, com 2,01 metros, era extremo; o irmão, Hugo Silva, também é uma ‘estaca’ de 2,03 metros, dos quadros do Benfica B.
Nomeada para MVP (Jogadora Mais Valiosa) do EuroBasket sub-16 feminino pela Seleção portuguesa, repetiu o feito no último Euro Sub-18 — ficou em 3.º lugar, e foi eleita para o 5 ideal, sendo a única jogadora que não disputou as meias-finais a integrá-lo.
Foi a melhor marcadora do torneio. Terminou com uma média de 18,7 pontos por jogo, 7,6 ressaltos, 3,4 assistências e 2 desarmes. Portugal terminou com um registo global de 6-1, mas o mais importante é que garantiu o primeiro lugar do país no Campeonato do Mundo de Basquetebol Feminino de Sub-19 da FIBA, que decorre em 2025 na República Checa. Sem ela, era impossível.
Hoje, com 18 anos feitos em maio, Clara Silva é uma das maiores promessas do basquete português e europeu, brilha por Portugal e pavimenta uma nova caminhada. Ao fundo do túnel, está o “sonho”: a WNBA.
Com pelo menos outras quatro universidades atrás dos seus serviços — UConn, Maryland, Tennessee e Carolina do Norte — Clara acabou por se comprometer com as Kentucky Wilcats, apesar da confirmação inicial da sua ida para a Universidade de Virginia Tech.
A escolha da nova caloira da NCAA foi muito ponderada — e contou com a ajuda da lenda, Ticha Penicheiro: “sempre me ajudou muito”, disse ao ZAP.
A mudança deveu-se, em grande parte, a outra mudança: o novo — e experiente — treinador da formação de Lexington, Kenny Brooks, que passou a orientar este ano as Wildcats, no seu 23.º ano como treinador de basquetebol feminino universitário.
É raríssimo ver uma universitária com os seus dois metros e há algum tempo que a faculdade não tinha alguém tão alto como Clara — será a mais alta da equipa. É uma grande mais-valia no basquetebol universitário, mas o seu jogo não se mede aos palmos: a poste também procura o passe e gosta do fadeaway — já deu provas disso.
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Shane Laflin, da ESPN, escreveu em novembro que a portuguesa seria considerada uma das 10 melhores do país se jogasse nos Estados Unidos. A fasquia está alta.
ZAP — Kentucky espera muito de ti. Sentes a pressão?
Clara — “Acho que é uma pressão positiva. Estou tranquila.”
ZAP — Augustine Pinto, dos sub-20 de Portugal, disse que tens “a mente de um base”. Achas que podes oferecer a Kentucky algo de que eles não estão à espera?
Clara — “Acho que a nível defensivo vou poder ajudar.”
ZAP — E o que é que sentes que tens de melhorar? Achas que algo que te vai surpreender no jogo norte-americano?
Clara — “Acho que tenho jogar mais no contacto. Aqui nos Estados Unidos joga-se bastante com contacto, é isso que tenho andado a tentar melhorar.”
ZAP — Vais ter competição a poste de outra Clara, Clara Strack, que também é muito alta (1,95m), e que vai para o seu segundo ano na equipa, inclusive com uma impressionante média de desarmes por jogo (2,2). Já falaste com ela? Esperas uma competição saudável?
Clara — “Sim, já estamos a treinar. É sempre saudável.”
ZAP — Também vais ter de conciliar o basquetebol com os estudos. O que vais estudar em Lexington?
Clara — Sim. Estou a estudar Marketing, mas ainda não tenho a certeza se é isso que quero. A coisa boa aqui é que posso mudar se quiser durante o primeiro ano e durante o segundo também”.
ZAP — Jogar no estrangeiro é um desafio, mas tu já tiveste essa experiência. O que é que os teus cinco anos em Espanha podem trazer à mesa agora nos EUA?
Clara — Em Espanha joguei sempre contra jogadoras mais velhas, mais fortes. Acho que isso me ajudou a crescer muito como jogadora e pode ajudar-me agora a jogar aqui.
ZAP — Mas nunca estiveste tão longe como agora. Os teus pais acompanharam-te até Espanha, vão voltar a acompanhar-te, agora para os Estados Unidos?
Clara — Não, agora estou sozinha.
ZAP — Como está a ser essa mudança para a família?
Clara — Tenho saudades, obviamente, mas não tem sido muito difícil. Com a equipa e os treinadores aqui a ajudarem-me não me tenho sentido muito sozinha. Gosto bastante de estar aqui.
ZAP — De qualquer forma, deves andar com a cabeça ocupada.
Clara — Ando muito ocupada, não tenho tempo para pensar nisso.
ZAP — E não és só tu, é toda a família habituada ao mundo do basquete. Sentes que isso foi determinante para estares onde estás ou achas que serias jogadora de basquete mesmo se eles não fossem?
Clara — Sim, sem dúvida que foi determinante. Se calhar jogaria basquete na mesma, mas não neste nível. Os meus pais sempre me apoiaram em tudo, mudaram-se comigo e com o meu irmão para Espanha para jogarmos. Sempre apoiaram os meus sonhos, e isso ajuda muito.
ZAP — Garantiste com as sub-18 o Campeonato do Mundo de Basquetebol Feminino de Sub-19. Foste o destaque, sem ti era impossível. O que é que retiraste dessa experiência?
Clara — Melhorou muito a confiança e foi uma experiência incrível jogar por Portugal e classificarmo-nos para o Mundial. Achei que a Federação fez um trabalho incrível neste Europeu.
ZAP — Vês-te capaz de liderar a seleção de basquete feminino no futuro, em direção a grandes conquistas? Achas que temos potencial?
Clara — Acho que sim, o basquete feminino em Portugal tem melhorado cada vez mais. Temos futuro.
14. José Andrade, treinador nas camadas jovens do Santarém, disse que tens tudo para chegar à WNBA, tudo para chegar ao topo do Mundo. Concordas?
Clara — Tento não pensar muito nisso. Gosto de ir pouco a pouco, mas sem dúvida que é o meu sonho. Espero que aconteça.
17. Tens exemplos em Portugal. O mais óbvio, Ticha Penicheiro, mas também mais recentemente Mery Andrade e até a Filipa Barros, que vai para o seu terceiro ano. Pediste-lhes algum conselho na hora da mudança?
Clara — Tenho estado em contacto com a Ticha. Ela tem-me ajudado bastante na adaptação aos Estados Unidos. Quando estive com dúvidas a escolher a Universidade, ela sempre me ajudou muito em tudo.
ZAP — Equipa preferida?
Clara — Benfica.
ZAP — E nos EUA?
Clara — Las Vegas Aces e Phoenix Suns.
ZAP — Ídolo no basquete?
Clara — Kevin Durant.
ZAP — Ídolo fora do basquete?
Clara — Os meus pais.
ZAP — Planos para depois do basquete?
Clara — Não tenho. Só basquete.
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Com essa cor de pele vai sofrer e muito das colegas que parece ser predominante o racismo contra jogadoras de pele branca.