Carlos Cueva, 34 anos e professor na Universidade de Alicante há seis anos. Estudou em Inglaterra, onde completou um doutoramento em Economia. O ensino e a investigação ocupam o seu tempo.
É especialista em investigação na área dos comportamentos da economia, apresenta relatórios ligados às finanças e às tomadas de decisão na economia. Vive perto do mar e gosta de ir nadar todos os dias. Vê futebol com frequência e gosta de desporto em geral, sobretudo de ténis.
Este professor passava ao lado do mundo do jornalismo e do desporto, até que elaborou um estudo sobre o impacto da ausência de público nos jogos de futebol. O documento engloba mais de 230 mil jogos de futebol, realizados desde 1993 até ao presente ano, entre eles quase 3 mil jogos à porta fechada.
As conclusões principais do especialista espanhol são: a vantagem das equipas que jogam em casa diminuiu consideravelmente desde que os jogos passaram a ser disputados à porta fechada e essa vantagem desaparece mesmo, completamente, no que diz respeito às decisões dos árbitros.
Assim se demonstra que os adeptos conseguem influenciar os árbitros, que são mais “amigos” da equipa da casa quando as bancadas estão preenchidas. Ou seja, acrescenta o estudo, o maior impacto que o público tem num jogo é na atuação dos árbitros.
No dia em que os adeptos vão regressar a um grande estádio em Portugal (no Sp. Braga-AEK), deixamos aqui a conversa que tivemos com o autor deste estudo inédito:
ZAP – Carlos, para já tenho uma curiosidade. São mais de 230 mil jogos de futebol, quase 30 anos, 41 ligas profissionais… Precisaste de quanto tempo para reunir, analisar e depois publicar estes números?
Carlos Cueva (CC) – Tive a ajuda de um estudante, o Ignacio, que está a terminar a sua licenciatura em Economia. Ele estava a fazer as disciplinas práticas comigo. No verão, eu pedi-lhe ajuda e nem deu demasiado trabalho encontrar todos estes dados: graças à indústria das apostas desportivas, há muitos dados de boa qualidade, disponíveis online. Ele encontrou dois bons sites e foi bastante fácil conseguir os números.
ZAP – O que te levou a elaborar este documento?
CC – Bom, eu fiz este trabalho porque desde início pensava que iria encontrar alguma consequência da ausência de adeptos. A intuição de quase toda a gente que acompanha o desporto diz-nos que o público pode influenciar um pouco os resultados. Normalmente a equipa da casa tem vantagem e uma das razões mais óbvias para isso acontecer é a presença do público. Toda a gente acha isso mas, até agora, nunca tinha surgido uma oportunidade tão boa para investigar se isso é verdade.
ZAP – Foi iniciativa tua ou a ideia surgiu em conversas com amigos?
CC – Iniciativa minha. No meu trabalho eu faço investigação, realizo experiências, estudo os fatores que afetam as tomadas de decisões em contexto de economia, normalmente. Mas, quando vi isto, percebi logo que poderia ser uma experiência inédita a nível mundial. Já conhecia alguns trabalhos em economia relacionados com desporto; e quando percebi que quase todos os países iriam ter jogos de futebol à porta fechada, vi que era uma oportunidade muito clara para estudar isto.
ZAP – Há outros estudos sobre este assunto?
CC – Na altura, pesquisei. Porque pareceu-me que o assunto era demasiado óbvio para ser analisado. Havia algumas coisas sobre a Bundesliga, a liga alemã, que foi a primeira a regressar, entre os maiores campeonatos. Havia mais um ou outro artigo nos Estados Unidos da América mas era algo pouco numérico. Como este, não havia. Agora já vi outro estudo global, muito parecido com o meu, e é provável que apareçam mais. Eu quero continuar a trabalhar nisto.
ZAP – Continuar como? O que se segue?
CC – Neste estudo tenho menos de 3 mil jogos analisados, só está incluída a fase final da temporada passada, na maioria dos casos. Quero elaborar algo com mais dados; vamos continuar a ter muitos jogos à porta fechada, vamos ter mais dados. E vamos ter estatísticas mais interessantes porque, em alguns países, já há jogos com alguns adeptos nas bancadas. E isso vai ser muito interessante porque quero ver se algo muda por causa da entrada de uma percentagem mínima de adeptos. E outra coisa que quero aprofundar (não podia até agora porque tinha pouca base para isso) é analisar as diferenças entre as ligas, entre os países.
ZAP – És adepto de futebol?
CC – Sou, gosto muito de futebol e vejo muitos jogos. Sou adepto do Real Madrid; eu sou natural de Madrid, apesar de viver em Alicante agora. Tento ver todos os jogos do Real Madrid.
ZAP – Vêm aí estudos sobre outras modalidades?
CC – Tenho interesse em estudar ténis e basquetebol. Eu sei que, no ténis, não há jogador local ou visitante. Mas interessa-me perceber como é que a presença de adeptos influencia os jogadores. Acho que isso pode ser bastante interessante, podemos recolher muitas estatísticas sobre o desempenho dos jogadores.