António Filipe: o tiro no pé de Marcelo e uma mulher à frente da bancada do PCP

Miguel A. Lopes / Lusa

O deputado do PCP, António Filipe

António Filipe, o histórico comunista que deixa agora o Parlamento por ter falhado a eleição, admite a possibilidade de o PCP poder vir a ter, pela primeira vez, uma mulher à frente da bancada parlamentar.

O histórico deputado comunista António Filipe falhou, no dia 30 de janeiro, a eleição para a Assembleia da República no distrito de Santarém.

O deputado dava a cara pelo distrito há já 33 anos, mas é agora arredado do Parlamento para se dedicar à sua atividade de professor universitário.

Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, António Filipe rejeitou que tenha havido uma falha por parte do partido. “Há momentos em que se ganha e em que se perde.”

O objetivo era que o líder parlamentar e o vice-presidente do Parlamento fossem eleitos, mas “não foram e agora temos de procurar soluções para que a voz do PCP na Assembleia da República continue ativa, embora com menos capacidade interventiva em termos quantitativos”.

Neste sentido, admite que a liderança parlamentar do partido “pode perfeitamente” ser entregue a uma mulher.

“O partido vai solucionar essa questão indicando um novo líder parlamentar. Pode perfeitamente ser uma mulher, não haverá nenhuma objeção, bem pelo contrário. As probabilidades são 50/50 porque o grupo parlamentar é absolutamente paritário. Há três deputadas: Alma Rivera, Diana Ferreira e Paula Santos”, respondeu.

Recorde-se que o grupo parlamentar do PCP passa a ser constituído por Jerónimo de Sousa e Alma Rivera, eleitos pelo círculo de Lisboa, Paula Santos e Bruno Dias (Setúbal), Bruno Dias (Beja) e Diana Ferreira (Porto).

Quanto à não-eleição dos deputados do partido Os Verdes, o deputado salientou que “a CDU vai manter-se enquanto coligação eleitoral”.

A cooperação entre os dois partidos vai manter-se. Os deputados do PEV não foram reeleitos e creio que não está em cima da mesa desfazer essa coligação. O PEV deixa obra feita no Parlamento, de luta por várias causas no direito do ambiente”, destacou durante a entrevista.

Questionado sobre se o PCP vai “voltar a ser um partido de protesto, de contestação nas ruas”, António Filipe respondeu que “nunca foi só um partido de protesto”.

Protesta quando acha que deve protestar, mas também é um partido de proposta e de construção de soluções, capaz de convergências. Em diversas autarquias e a nível nacional – aliás, uma das lições dos últimos seis anos passou por aí”, continuou.

Assim, e tendo em conta a contestação social, o deputado considera que há muitos problemas que não estão resolvidos. “Há formas diversas de contestar, e estamos a falar de contestação feita nos termos democráticos. Não estamos a falar de arruaças ou de formas de manifestação à margem dos direitos democráticos”, justificou.

“Havendo razões de contestação, ela certamente surgirá e aí naturalmente que os comunistas estarão com as populações e os trabalhadores, e procurando levar as suas reivindicações aos órgãos de poder e à Assembleia da República”, garantiu.

Sobre o Presidente da República, disse que a maioria absoluta do PS acaba por ser um tiro no pé.

“O sentido geral da sua intervenção pública apontava muito para a existência de um bloco central informal. Ou seja, não havendo maioria absoluta – porque ela de facto não estava nas previsões –, haver um Governo do PS que contasse com a complacência do PSD ou um Governo do PSD que contasse com a complacência do PS”, afirmou, acrescentando que “os resultados eleitorais escaparam às previsões do PR como escaparam às de toda a gente”.

ZAP //

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