O Sindicato Nacional do Ensino Superior enalteceu o número elevado de colocados, mas alerta para pressão nos docentes… um problema que pode ser resolvido a curto-médio prazo, já que houve aumento “muito significativo” das colocações nos cursos de formação de professores.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António de Sousa Pereira, fez um balanço “bastante bom” das colocações no ensino superior.
Quase 50 mil alunos ficaram colocados na primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES) – um número ligeiramente abaixo do que foi registado no ano passado. 84% dos candidatos entraram.
“O balanço é bastante bom. Nós temos um aumento do número de estudantes colocados na sua primeira opção, temos um aumento do número de estudantes colocados numa das suas três primeiras opções, o que significa que há uma adaptação maior entre aquilo que é a oferta formativa das instituições e o que são os desejos dos nossos jovens, o que é sempre positivo”, enalteceu o também reitor da Universidade do Porto.
Mais de metade dos candidatos (56%) conseguiram ficar na sua primeira opção, sendo que nove em cada dez (87%) ficaram numa das suas três primeiras escolhas.
De acordo com os dados disponibilizados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), dos 59.073 alunos que agora se candidataram ao ensino superior, ficaram colocados 49.438 – menos 0,7% do que na mesma fase do concurso realizado no ano passado.
Professores sob pressão
O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) congratulou-se hoje pelo número elevado de alunos colocados na primeira fase do CNAES, mas alertou para a pressão que coloca sobre os docentes.
“Estamos contentes que o número de alunos a entrar no ensino superior se mantenha elevado, de todos os modos isto para os docentes do ensino superior causa alguma pressão”, disse à Lusa o presidente do SNESup, José Moreira.
Para o dirigente sindical, o envelhecimento do corpo docente, que tem assistido ao aumento das saídas por aposentação, é um problema a ter em conta, bem como a perda de poder de compra daqueles profissionais.
“O ensino superior é também um serviço público, tal como o Serviço Nacional de Saúde ou a Justiça, e quando os profissionais começam a ser mal tratados e as carreiras começam a perder atratividade, o que nós estamos a fazer é tirar dinheiro do bolso dos contribuintes, que é quem nos mantém”, apontou José Moreira.
Mas calma… porque vêm aí mais professores
António de Sousa Pereira salientou dois aspetos, “um pela positiva e outro talvez menos positivo”.
“Por um lado há um aumento muito significativo das colocações nos cursos de formação de professores, o que é bom”, considerou o presidente do CRUP.
“Todos nós estamos a ver notícias diariamente de falta de professores, e portanto haver um aumento da colocação nos cursos de formação de professores é muito bom”, acrescentou.
Dos 26 cursos de educação, para formação de professores, com vagas a concurso na 1.ª fase de acesso ao ensino superior apenas três deixaram vagas para a segunda fase, sobrando 36 lugares dos 1.154 abertos.
Por outro lado, António de Sousa Pereira relevou um aspeto “menos bom”, o de continuarem a ter “baixa atratividade cursos na área da engenharia agronómica, florestal e alguns cursos na área da informática”.
“Acho que este é um aspeto que precisa de ser trabalhado porque são cursos que são relevantes do ponto de vista estratégico para o nosso país, e nós temos de conseguir convencer os nossos jovens que estas são apostas que vale a pena fazer”, considerou António de Sousa Pereira.
O presidente do CRUP mostrou-se confiante de que “as instituições vão olhar para o assunto e vão fazer um trabalho no sentido de em próximos concursos compensar isso”.
38 cursos sem alunos
Instituições de ensino superior abriram vagas em 38 cursos aos quais nenhum aluno concorreu na primeira fase do Concurso de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), sendo a maioria em politécnicos e nas áreas de engenharias.
O SNESup vê isso com preocupação: “Para o país, não dar importância aos técnicos superiores é um problema grave, porque parece que continuamos a assistir a uma economia de serviços de baixo valor acrescentado, como é caso do turismo e hotelaria”, defendeu José Moreira.
Para o responsável sindical, o país deve “procurar outros caminhos”, que passam “pela especialização tecnológica e por inverter a questão de haver pessoas altamente especializadas com salários diminutos”, sob pena de continuar a formar profissionais que vão trabalhar para outros países.
Os resultados da primeira fase do concurso ficaram disponíveis no site da Direção-Geral do Ensino Superior às 00h01 deste domingo.
ZAP // Lusa