Conversas esquisitas, canções duvidosas, encontros que não funcionavam. Aili Seghetti está a tentar alterar a comunicação na Índia.
Discursos meio (ou muito) estranhos, canções que a mulher dispensava, homem a agarrar a mulher logo na “estreia”… Definitivamente, a comunicação entre possíveis casais não é a melhor nos encontros românticos, na Índia.
Aili Seghetti tem tentado alterar isso. Dedicada ao coaching em questões relacionadas com intimidade, a britânica chegou à Índia em 2007 e, sendo especialista no assunto, rapidamente reparou que algo teria de mudar: “Eu fui a encontros. Eram mesmo muito…maus”.
Não era só uma questão de falta de comunicação, ou de comunicação a seguir no sentido errado. Era também uma questão de falta de consciência geral, sobretudo entre os homens, no momento de se aproximar da pessoa com quem quer namorar.
Aili explica à revista VICE que a Índia está a atravessar uma mudança cultural. Aumentou, muito rapidamente, o número de mulheres que recebem o seu próprio salário e que, ao mesmo tempo, exploram a sua vida sexual de outra forma, de forma mais independente e aberta.
E a tradição de casamentos “arranjados” pelas famílias, que ainda existe, tem quebrado um pouco, para dar espaço a casamentos baseados no amor.
São dois “choques culturais” que, de forma compreensível, deixam as pessoas um pouco desorientados. As pessoas na Índia, no geral, não se sabem comportar em encontros românticos – porque quase ninguém ia a esse tipo de encontros, até há poucos anos.
Eis que surgiu uma ideia: The Intimacy Curator. Uma plataforma que serve para marcar encontros.
Mas a pessoa que marcar um encontro através deste serviço não se vai encontrar com a outra eventual “cara metade”; vai encontrar-se, ou com Aili, ou com outro elemento da sua equipa, que funcionam como um teste, um ensaio. O casal encontra-se mas só para testar o comportamento da pessoa que quer ter um encontro a sério.
“Somos substitutos de namoro. Vamos ensinando coisas; damos resposta imediata, análise imediata, ao que a outra pessoa diz, à linguagem corporal da outra pessoa, ao contacto visual. E também damos dicas sobre a aparência, o estilo e assuntos de conversa”, explicou Aili.
Porque namorar “não é só ler ou conversar, também é experimentar”.
A equipa da plataforma envolve pessoas formadas em psicologia ou em aconselhamento. E são mais do que coachs: porque vão além dos conselhos, das instruções – comentam situações reais e escolhem experiências baseadas no que a pessoa quer num relacionamento.
Aliás, é por aí que o processo começa: falar com a pessoa interessada em alguém, para conhecê-la e para perceber o que procuram naquele serviço. A pessoa interessada é auxiliada na criação de perfis em aplicações, por exemplo. E depois aparece uma lista de possíveis encontros, com base no que falaram.
No meio dos encontros (falsos), pode haver dicas sobre toques mais íntimos, mais físicos, como exercícios de respiração para criar uma experiência erótica. “Mas não fazemos sexo com o cliente e isso é ilegal na Índia. Não há beijos ou toques nos genitais. Mas abraçamos ou damos as mãos. Basicamente fazemos o processo todo, o acumular de sensações, até ao momento erótico; mas sem chegarmos ao momento real”, avisou.
Há uma diferença óbvia, no geral, entre as intenções masculinas e femininas: os homens estão preocupados com o momento do sexo, as mulheres estão focadas em encontrar relações duradouras.
O substituto de namoro pode andar em encontros falsos durante uma semana; mas também pode prolongar esses encontros durante três meses.
Ah, e paga-se: 35 euros pela primeira sessão (conversa, conhecimento do cliente) e quase 60 euros por um encontro falso de duas horas.
É um serviço pago mas há clientes que se apaixonam…pela “pessoa-teste”, pela pessoa que trabalha para a plataforma. “É uma maneira de os educar para a rejeição”, reage Aili Seghetti, que também garantiu que nenhum dos seus funcionários de deixa “apanhar”, apaixonar, pelo ou pela cliente.