Apesar das queixas de discriminação, emprego e formação impulsionam migração brasileira para Portugal

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Vivem em Portugal cerca de 200 mil brasileiros, tantos quantos os portugueses que moram no Brasil. Segundo o historiador e analista político brasileiro José Murilo de Carvalho, os estudantes e imigrantes do país sul-americano vêm “em busca de emprego e de formação académica”.

Ao Jornal de Notícias, o membro da Academia Brasileira de Ciências indicou que “a emigração portuguesa para o Brasil teve altos e baixos”, destacando o século XVIII, as primeiras três décadas do século XX e as décadas de 1950 e 1960. “Hoje, pelo primeira vez, temos emigração brasileira para Portugal”, referiu.

Na sua opinião, o motivo da migração nos dois sentidos é o mesmo: o emprego. “Portugal precisa de mão de obra e o Brasil tem excesso de desempregados e de subempregados”, afirmou, declarando que o “medíocre crescimento da economia brasileira, nas últimas décadas”, potenciou a busca de emprego no exterior.

“Libertadas as colónias e livre da ditadura salazarista, Portugal aninhou-se na União Europeia, adquirindo estabilidade política e económica. De exportador de mão de obra, passou a ser importador. E a língua comum facilitou a adaptação dos brasileiros”, frisou o historiador. Além disso, o mercado português está em busca de mão de obra e de o Governo facilita “a entrada de migrantes”.

“A irritação dos portugueses com a gramática e a pronúncia do português brasileiro” são dois “percalços”, disse o analista. Mas acredita que as universidades portuguesas estejam a beneficiar de estudantes brasileiros, por serem “fonte de recursos”, mesmo que “os professores torçam o nariz diante da pronúncia e da gramática”.

Para sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Pedro Góis, “há cerca de dez anos, um fluxo turístico de brasileiros passou a levar uma imagem de Portugal diferente para o Brasil. Leva uma Lisboa cosmopolita, um país com qualidade de infraestruturas e moderno, que remunera melhor do que o Brasil. Talvez seja esse o sucesso”.

Em 2021, residiam em Portugal 204 mil brasileiros, segundo o relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Esta entidade deu o parecer em 13 328 pedidos de aquisição de nacionalidade – por casamento ou união de facto foram 3064. No mesmo ano, entraram no país 39 456 brasileiros.

No fim de julho, aquela entidade informou que tinha atribuído 133 mil novos vistos de residência a cidadãos estrangeiros nos primeiros seis meses deste ano, anunciou a entidade no fim de julho. Os números são avançados revelam que 47.600, mais de um terço, são imigrantes brasileiros.

Em agosto, dados avançados pelo Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) mostravam que os brasileiros foram os que mais se queixaram de discriminação em Portugal, tendo representado 26,7% do total de 408 denúncias (26,7%), seguindo-se os ciganos (16,4%) e os negros (15,9%).

Taísa Pagno , ZAP //

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