Apesar dos números positivos dos primeiros meses do ano, economistas anteveem uma inversão do consumo em breve.
Os números recentes da economia portuguesa têm revelado uma tendência algo contraditória: apesar dos preços dos bens essenciais terem vindo a aumentar desde o início do ano, a economia continua a acrescer, assente no forte desempenho do consumo privado. Para alguns especialistas, a explicação pode estar, por exemplo, nas poupanças feitas pelas famílias durante a pandemia, apesar de, escreve o Público, haver várias razões para se acreditar que o fenómeno será passageiro e que, em breve, o efeito da conjuntura se irá fazer sentir.
O mesmo jornal aponta que, mesmo com a inflação a fixar-se nos 3,3%, 4,2% e 5,3% nos três primeiros meses do ano, o consumo privado privado cresceu 2,2% face ao trimestre anterior. Os números permitem apontar que o indicador está agora 1,6% acima do nível registado antes da pandemia, o que acabou por se traduzir no resultado mais forte de toda a União Europeia.
No que respeita aos fatores que justificam este comportamento, o Público, que cita dados do Banco de Portugal, aponta, precisamente, os níveis de poupança dos portuguesas durante a pandemia e, sobretudo, durante os confinamentos. Neste período, a taxa de poupança atingiu valores elevados, superando os 10% do rendimento disponível. Isto fez com que a riqueza financeira chegasse ao final de 2021 em 194,6% do rendimento disponível anual — 16 pontos percentuais mais elevado do que registado no final de 2019.
É, por isso, provável que os portugueses tenham acumulado esta poupança e aproveitado os primeiros meses do presente ano para começar a realizar os consumos que deixaram por fazer. Esta hipótese é especialmente visível nos bens de consumo duradouros, como automóveis e os eletrodomésticos.”
Paulo Carvalho, economista-chefe do BPI, concorda com a tese de que “será sobretudo a acumulação de poupança, acrescida de necessidades acumuladas ou não satisfeitas durante os anos anteriores”. “Por exemplo, dadas as restrições de oferta e condicionalismos no mercado automóvel, é possível que uma parte das transações se tenha acumulando, justificando o aumento significativo de consumo de bens duradouros no primeiro trimestre de 2022″, aponta.
Outra justificação possível tem que ver com uma tendência a nível comportamental e que passa pela antecipação das compras de alguns produtos face à expectativa da subida dos bens de consumo decorrente das notícias da inflação. Desta forma, os consumidores antecipam alguns consumos importantes para evitar pagar preços mais elevados. “Se uma pessoa tem algum dinheiro na conta e está à espera de uma subida forte de preços, pode decidir que é melhor gastar dinheiro já do que mais tarde”, explica o mesmo economista.
No entanto, escreve o mesmo jornal, os sinais de que o consumo pode estar prestes a sofrer uma queda estão aí. Perante a subida dos preços, o não acompanhamento dos rendimentos e a subida das taxas de juro dos empréstimos, é mais que provável que as famílias passem a consumir menos bens e produtos, o que acabará por se transformar numa evolução menos positiva.
Não está relacionado com a poupança, mas sim com a devolução do IRS o consumo até vai aumentar com o pagamento do subsídio de férias. Também está relacionado que os eletrodomésticos e carros são vendidos a prestações fixas e comprar agora antes que os juros subam é vantajoso. Crescimento apoiado no consumo interno é perigoso, significa balança de pagamentos mais negativa e défice maior.
Está errado. Tem claramente a ver com os níveis de poupança recorde durante o período de pandemia. Tudo isto terá um travão forte em menos de um ano.