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Em 2018, a PJ estava “na penúria” e a “ponto de encerrar”

PJ / Facebook

Com recados ao Governo, a Directora Nacional Adjunta da Polícia Judiciária (PJ), Luísa Proença, lamenta o desinvestimento que tem sido feito pelo poder político na força de autoridade e revela que em 2018, quando chegou ao cargo, a situação era de “penúria mesmo” e de “quase no ponto de ter de encerrar”.

As palavras de Luísa Proença surgem em entrevista ao Observador, onde revela que quando se tornou Directora Nacional Adjunta da PJ, “a polícia vivia uma situação de profunda asfixia e de penúria mesmo“.

“Quando cá chegámos, em Julho de 2018, muitos colegas da investigação diziam que esta polícia não ia sobreviver mais três ou quatro meses, estava quase no ponto de ter de encerrar, não tínhamos mais meios e, portanto, ia fechar”, aponta a responsável da PJ pelos fundos europeus, a administração financeira e a inovação.

Luísa Proença lamenta que encontrou uma força de autoridade com “tecnologia completamente em fim de vida, alguma já parada e que nunca foi reparada nem substituída”, e com “sistemas de informação sem manutenção há anos”.

“Quando em 2018 esta direcção nacional assumiu funções, os últimos computadores de secretária que tinham entrado na PJ havia sido em 2014 e vinham das secretarias judiciais dos tribunais, com cerca de 24 a 26 mil horas de trabalho. A pergunta que nos colocámos logo foi: então já não serviam para as secretarias dos tribunais e servem para a PJ, que tem o combate à corrupção?”, aponta Luísa Proença.

A Directora Adjunta da PJ reconhece que sentia “vergonha” porque o piquete “não conseguia abrir uma imagem que um cidadão trouxesse sobre um crime, sobre por exemplo obras de arte que lhe tinham furtado, sobre um assalto a casa, qualquer coisa”.

“Em 2018, tínhamos a sensação de não estarmos no piso 0, nós estávamos no -5 ou no -6, portanto estes quase três anos que levamos de mandato temos conseguido chegar ao 0″, destaca ainda.

“Imagine o que é dizerem-me que as senhoras da limpeza chegaram a comprar os produtos para fazer a limpeza“, conta ainda Luísa Proença, realçando que, nestes três anos, a sua direcção abordou “todos os problemas”, tratou de “liquidar dívidas e ao mesmo tempo ir angariando fundos”.

Recados do Governo

Sobre o recurso a financiamentos europeus, Luísa Proença repara que quando começou a “pedir autorização para fazer candidaturas e para ir procurar fundos, a primeira reacção não foi positiva“, relata.

“Somos uma polícia que não pode dizer lá para fora que não tem dinheiro“, refere Luísa Proença, notando que foi isso que começaram por lhe dizer, realçando que “não se podia fazer candidaturas [a fundos europeus] porque isso expunha as nossas fragilidades”.

Mas o cenário mudou e, actualmente, a PJ é “a polícia europeia com mais projectos financiados nesse quadro de investigação e desenvolvimento”, relata ao Observador.

Pelo meio da sua entrevista a Directora Adjunta da PJ deixa recados ao poder político. “A polícia precisa mesmo de orçamento, não é só com fundos europeus que consegue viver”, nota, salientando a importância de haver dinheiros do Estado para financiar “uma estratégia”.

Na mesma toada de crítica ao poder político, Luísa Proença nota que os problemas na PJ “não estão totalmente resolvidos, porque há investimentos que não se fazem com fundos europeus”.

“Situações absolutamente inadmissíveis”

A Directora repara que encontrou “situações absolutamente inadmissíveis, impensáveis nos dias de hoje” em instalações por todo o país.

“Temos esta sede [em Lisboa], que mostra uma polícia moderna e com excelentes condições, e depois encontramos situações como em Braga, em que não há sequer espaço para ouvir uma vítima com dignidade e com reserva”, reporta Luísa Proença.

Em Coimbra, as instalações da PJ são “completamente exíguas que nem comportam o aumento de funcionários de que a polícia tanto carece”, diz ainda.

Já na Guarda, onde decorrem obras para abertura de uma infraestrura melhorada, “as instalações da PJ eram num edifício novo, inaugurado em 2004”, mas inacabado, “ainda com zonas em tijolo e em terra” e “em que a chuva e a neve entram“, refere.

Luísa Proença nota também que em Setúbal, há “um problema gravíssimo para resolver” que “é do conhecimento do Governo”.

Como a primeira mulher na Direção Nacional da PJ e a primeira num cargo de topo da força policial, tanto mais não sendo polícia, Luísa Proença diz que “todos os dias” sente que tem de se “preocupar sempre em não falhar”.

“Sempre percebi que quando chegasse a minha vez de ter um papel mais interveniente e visível não teria muita margem para errar. Porque sou mulher e porque sou do apoio”, aponta ainda sobre o facto de não ter desempenhado funções como polícia.

ZAP //

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