Nos últimos 19 anos, o casal de imigrantes portugueses Maria e Carlos Carreiro acolheu perto de 400 crianças e jovens na sua casa em New Bedford, nos Estados Unidos.
Quando, em 1995, Maria Carreiro perdeu o trabalho numa fábrica, uma amiga deu-lhe um conselho que mudaria a sua vida para sempre.
“Ela disse-me que como tinha uma casa grande e gostava muito de crianças, que devia tentar ser família de acolhimento, que havia sempre muita procura”, lembra.
Na altura, a açoriana de 53 anos já tinha dois filhos, mas decidiu experimentar.
“Correu muito bem. Há sempre dificuldades, claro, porque são crianças com problemas, que vêm de famílias onde há maus tratos, problemas psicológicos ou histórias com drogas e álcool”, explica.
O casal acolhe desde crianças com dias de vida, que vêm diretamente do hospital, até jovens com 18 anos. Alguns ficam umas semanas, outros até três anos.
Maria diz que “os bebés são mais fáceis de tratar”.
“Apesar de precisarem de mais cuidados não vêm com os traumas que alguns dos mais velhos têm”, explica.
O Estado oferece ao casal uma diária por cada criança acolhida, bem como seguro de saúde e novas roupas a cada três meses.
Maria diz que não teve de fazer obras na casa, que tem seis quartos de cama, e desvaloriza as dificuldades de acolher tantas crianças.
“Quem faz uma panela de sopa para dois, faz para seis ou sete. O que o Estado dá cobre o mínimo das despesas. O mais difícil é a parte emocional, mas com amor tudo se consegue“, diz a açoriana.
Neste momento, o casal acolhe dois bebés, de quatro e 15 meses, e dois jovens de 15 e 17 anos.
“O objetivo das assistentes sociais é sempre devolver as crianças aos pais. Dão-lhes um ano ou dois para se tentarem recuperar. Se eles não conseguem, tentam depois que alguém na família alargada fique com eles e, só então, se não o conseguirem, me perguntam se os quero adoptar”, explica Maria, que além dos dois filhos, já adoptou duas crianças.
“É muito difícil devolver estas crianças, porque ganhamos sentimentos por elas. Mas temos de por sempre na nossa mente que não são nossos filhos e que apenas os temos temporariamente”, diz.
No site dos Departamento de Serviços Sociais de Massachusetts, que garante que o número de famílias de acolhimento está a diminuir, informa-se que famílias que falem português são das mais necessárias.
Maria diz que o casal acolhe crianças de famílias portuguesas, “o que ajuda porque falam a língua e estão habituados à comida”, mas sobretudo de famílias americanas e hispanas.
Neste momento, sete mil crianças estão ao cuidado do estado em Massachusetts. As famílias de acolhimento são vistas como uma alternativa às instituições sociais, já que as crianças encontram um ambiente mais semelhante a uma casa de família.
“Estamos aqui para tentar dar aquilo que eles não tiveram em casa, como amor e estabilidade. Alguns são muito pequenos, nunca se vão lembrar de nós, mas outros ficam com estas memórias para sempre”, diz Maria.
A portuguesa recorda uma visita que recebeu recentemente, que a lembrou porque é que já acolheu centenas de crianças nos últimos 19 anos.
“Abri a porta e encontrei um homem feito. Disse-me que tinha vivido connosco durante dois anos quando tinha 11 e que agora estava na Marinha. Tinha vindo fazer uma visita apenas para agradecer”, conta.
/Lusa