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De que forma as eleições dos EUA podem determinar o futuro das viagens?

Doug Letterman / Flickr

Aeroporto Internacional John F. Kennedy

Melhorias em aeroportos, aviação mais ecológica ou uma revolução ferroviária. O segundo mandato de Donald Trump, ou o primeiro mandato de Joe Biden, pode ter diferenças radicais no desenvolvimento destes setores e isso poderia sentir-se nas viagens.

Nenhum dos candidatos se centrou nos transportes durante sua campanha, mas com a indústria de viagens parada devido à pandemia de covid-19, a resposta presidencial pode determinar se esta área se irá recuperar o mais rápido possível, ou se por outro lado, se será destruída. Esta preocupação vai muito além de questões turistícas, diz a CNN.

Segundo Tori Emerson Barnes, vice-presidente executivo de relações públicas e políticas da US Travel Association, com a pandemia a indústria de viagens sofreu quase 40% das perdas de empregos em todo o país, e se não houver um pacote de ajuda até o final de dezembro isto poderá ser drástico.

Pandemia como prioridade

Donald Trump chegou ao poder em 2016 com a promessa de fazer melhorias nas infraestruturas, tendo-se referido, durante a sua campanha e depois como presidente, a alguns dos aeroportos do país e ao sistema ferroviário como de “Terceiro Mundo”. Este ano o assunto não esteve presente durante a sua campanha.

Enquanto isso, Joe Biden mostra-se preocupado com estradas, ferrovias e com a aviação no seu plano de “infraestruturas”. O plano de “energia limpa” também diz respeito aos transportes, mas o democrata também não tem medidas muito claras neste sentido.

Há muitos anos que a indústria da aviação dos Estados Unidos precisa de atualizações de aeroportos e melhorias de infraestrutura, mas para Henry Harteveldt, co-fundador da Atmosphere Research, a única coisa que importa neste momento é manter a pandemia sob controlo.

“A indústria de viagens depende de um ambiente de saúde pública seguro o suficiente para que as pessoas se sintam confortáveis ​​para viajar”, afirma Harteveldt.

Brett Snyder, autor do blogue Cranky Flier, concorda com esta perspetiva. “O setor das viagens precisa de duas coisas. Primeiro, que a crise da covid-19 seja controlada e, em seguida, precisa que as fronteiras sejam abertas”, referiu.

China no horizonte

Depois da pandemia ser ultrapassada e com as fronteiras reabertas, Harteveldt relembra um desejo antigo das companhias aéreas dos EUA: um acordo de “céu aberto” com a China. Este acordo dá às transportadoras de ambos os lados direitos ilimitados de voar entre os dois países, mas “é improvável que isto aconteça durante a presidência de Trump”. Será que seria uma hipótese para Biden?

Para os passageiros esta medida poderia ser benéfica, pois poderia acabar por reduzir as tarifas com o aumento da capacidade, e podia abrir rotas de aeroportos regionais para as principais cidades da China. Para as companhias aéreas, isso abriria a capacidade de transportar cargas.

Infraestruturas, aviação e ferrovia

Harteveldt e Snyder concordam que a infraestrutura da aviação precisa ser melhorada – e rápido.

Em tempos, os dois atuais principais candidatos à presidência dos EUA referiram-se aos aeroportos americanos como sendo velhos e ultrapassados. Trump destacou Newark e JFK, durante a campanha de 2016, e repetiu as afirmações na primeira metade de sua presidência.

Na época, como vice-presidente, Biden fez a mesma observação sobre LaGuardia (também criticada por Trump) em 2014, num discurso que pedia melhorias nas infraestruturas.

Apesar de tanto Trump como Biden não terem dado muita atenção a este tema no decorrer das suas campanhas, os dois já tinham mostrado o seu desagrado neste aspeto.

Numa altura em que o presidente Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris (no dia 4 de novembro de 2020), seria uma surpresa se no seu próximo mandato mostrasse interesse em tornar a aviação mais ecológica.

Pelo contrário, Biden apoia a “tecnologia verde” na aviação como parte de um plano para investir cerca de 400 mil milhões de dólares ao longo de uma década. O democrata quer também tornar os aviões mais eficientes em termos de combustível.

No que diz respeito à rede de ferrovia, esta continua inalterada desde 1971.

Os planos de Biden incluem uma mudança nas viagens ferroviárias, nas quais promete tornar o sistema “o mais limpo, seguro e rápido do mundo”. E embora isso não possa ser alcançado numa presidência de dois mandatos, muito menos em apenas um, Jim Mathews – presidente e CEO da Rail Passengers Association – acredita que a ambição do democrata é “factível”.

Trump não divulgou nenhum plano de transportes neste ciclo eleitoral, mas também nos últimos quatro anos o presidente não pareceu muito preocupado com os comboios.

Sean Jeans-Gail, vice-presidente de Política e dos Assuntos Governamentais da Rail Passengers Association, recorda que “o presidente fez campanha (em 2016) para trazer o comboio de alta velocidade para os Estados Unidos, mas não fez nada por isso”. Estas falsas promessas deixam dúvidas quanto à ação de Trump nos próximos 4 anos.

Os planos de Biden destacam o aumento da eletrificação no sistema ferroviário, que não é uma medida exclusivamente ambiental; é também um passo na preparação de uma rede ferroviária de alta velocidade.

Contudo, Mathews, relembra que “ninguém consegue construir uma rede ferroviária de alta velocidade em quatro ou oito anos”. Ainda assim, acredita que “as coisas podem acontecer muito rapidamente em algumas regiões se as medidas forem tomadas de forma consciente”.

Emerson Barnes realça ainda que uma questão que não foi falada por nenhum dos candidatos, mas que representa um assunto importante: a tecnologia de biometria.

As pessoas inscritas no programa Global Entry têm os seus passaportes e impressões digitais verificados ao entrar no país, mas isso só acontece em 15 aeroportos que usam biometria facial. Para muitos especialistas esta medida seria muito importante, sobretudo no que diz respeito à segurança.

Independentemente do próximo presidente dos EUA, a única certeza é que as áreas das infraestruturas, da aviação e da ferrovia podem sofrer grandes alterações – para melhor (caso sejam tomadas medidas) ou para pior (caso se continue sem fazer nada).

Sem dúvida que isso vai afetar as viagens internas e externas do país nos próximos anos.

ZAP //

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