Os elefantes possuem várias cópias extra de genes associados à supressão de tumores, concluiu uma nova investigação da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, que dá ainda conta que este “arsenal” de mecanismos de defesa genética pode explicar porque é que estes animais raramente padecem de cancro.
O facto de a maioria dos mamíferos ser propensa ao cancro, mas esse não ser o caso dos elefantes tem inquietado os cientistas. Até porque os elefantes reúnem dois dos fatores associados ao desenvolvimento de células cancerígenas: são enormes – têm 100 vezes o número de células do Homem – e vivem vidas longas.
Um animal de grandes dimensões tem uma maior probabilidade de desenvolver mutações genéticas, que fazem com que as células individuais se reproduzam mais rapidamente. Por isso, a resistência dos elefantes à proliferação de células cancerígenas tem sido um “mistério” para a comunidade científica.
De acordo com a nova investigação, cujos resultados foram esta semana publicados na revista científica eLife, os elefantes desenvolveram uma série de genes de supressão de tumor que, tal como o nome indica, afastam as células tumorais.
Os cientistas frisam, contudo, que este mecanismo não é exclusivo dos elefantes: a duplicação de genes supressores de tumor é bastante comum entre outros mamíferos que são parentes vivos ou já extintos dos elefantes, como é o caso da toupeira-dourada-do-Cabo e os musaranhos, um insetívoro de nariz comprido.
A investigação sugere que as capacidades de supressão tumoral precedem ou coincidiram com a evolução de corpos excecionalmente grandes, facilitando o seu desenvolvimento.
“Espera-se que, à medida que se obtém um corpo realmente grande, que o seu fardo associado ao cancro aumente, porque corpos grandes têm mais células (…) O facto é que isso não é verdade entre as espécies – um paradoxo de longa data no seio da medicina evolutiva e na biologia – indica que a evolução encontrou uma forma de reduzir o risco de cancro”, explicou Vincent Lynch, professor assistente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Buffalo e co-autor do estudo, citado em comunicado.
Na nova investigação, continuou, a equipa explorou a forma como os “elefantes e os seus parentes vivos e extintos evoluíram para se tornarem resistentes ao cancro“.
“Temos investigações anteriores sobre o TP53, um supressor de tumor bem conhecido. Desta vez, dissemos: ‘Vamos apenas ver se todo o genoma do elefante inclui mais cópias de supressores de tumor do que o esperado’. A tendência é geral? Ou a tendência é específica para um gene?”, explicou, sintetizando: “Descobrimos que era geral: os elefantes têm muitas, muitas e muitas cópias extras de genes supressores de tumor, e todos estes contribuem um pouco, muito provavelmente, para a resistência ao cancro”.