Doula não entra em salas de parto. Porquê? Petição quer combater “lei”

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Doulas não entendem porque não podem acompanhar as mulheres grávidas durante o parto. Stéfanie Stefaisk explica a petição pública.

Pela entrada da doula nos hospitais públicos e privados de Portugal. A petição pública é dirigida a Marta Temido, ministra da Saúde, a Graça Freitas, Directora-geral da Saúde, à Assembleia da República e a outros órgãos competentes.

Foi publicada no dia 8 de Fevereiro, há cerca de um mês e meio, e criada por Stéfanie Stefaisk, doula (que por acaso também é jornalista em regime freelancer) que aceitou falar com o ZAP sobre o assunto.

Antes de falarmos sobre a petição, convém esclarecer algo que muitas pessoas em Portugal ainda desconhecem: o que é uma doula? “É uma profissional capacitada e habilitada para acompanhar uma gestante durante a gravidez, durante o parto e durante o pós-parto. Fornece informações, presta apoio emocional e traz conforto. É uma profissional para prestar conforto”, respondeu. E, sublinhe-se, não está habilitada a realizar qualquer procedimento médico.

No fundo, uma doula também tenta evitar casos de violência obstétrica: “Completamente. No momento do parto, a mulher é dona do corpo dela. Eu não vou dizer o que ela tem de aceitar. As escolhas são dela. Nós acompanhamos o processo e informamos a mulher. Mas ela é que escolhe, ela é que cria o seu caminho”.

Estas profissionais estão reconhecidas oficialmente pela Organização Mundial da Saúde porque há muitas “evidências sólidas, científicas, publicadas sobre benefícios do suporte contínuo de uma doula”, porque a presença de uma doula impacta directamente no nascimento do bebé.

Stéfanie deu um exemplo: com o acompanhamento de uma doula, há maior probabilidade de os bebés nascerem com um superior índice Apgar (um teste realizado mal o bebé nasce, uma avaliação do grau de adaptação do bebé à vida extra-uterina). A probabilidade de esse índice ser menor do que 5 – a escala é de 0 a 10 – é 38% menor quando existe suporte contínuo de uma doula.

Outras evidências científicas são apresentadas no texto que acompanha a petição: menor probabilidade de cesarianas, maior probabilidade de parto espontâneo vaginal, menor utilização de recursos farmacológicos, trabalhos de parto mais rápidos, menos sentimentos negativos na mãe, entre outras.

Mesmo assim, a regra em Portugal é não permitir entrada de doulas em salas de parto. Aliás, foi esse “inconformismo” que levou Stéfanie a criar esta petição: “Não há motivo para não podermos entrar. Nós ficamos à porta das salas de parto”.

Porquê? São vistas com desconfiança? “Depende muito. Mas normalmente a doula só entra quando a mulher grávida está sozinha. Se tem acompanhante, dificilmente entra. Porque os profissionais de saúde alegam que interfere demais no trabalho de parto”, retorquiu.

“A mulher com doula tem muito mais consciência do que vai, ou do que pode, acontecer. O empoderamento é muito mais forte. Pode dizer “Eu não quero isso, não aceito isso”. As mulheres que são acompanhadas por doulas questionam.
Quando questionam demais, dão mais trabalho. Isso choca com o trabalho dos profissionais de saúde, que insistem em conduzir o seu trabalho como já está estipulado. Agora as mulheres começam a questionar essas práticas”, analisou.

“E reparemos que, para o Estado, a presença de uma doula é algo vantajoso. É mais barato para o Estado que o parto seja o mais natural e simples possível, que a mulher não precise de medicamentos desnecessários, de intervenções desnecessárias. E estamos a falar de procedimentos desnecessários, atenção”, reforçou.

A petição cita uma lei de 2019, que indica que a mulher grávida pode ser acompanhada por três pessoas (indicadas pela própria), em regime alternado. Não pode estar mais do que uma pessoa no espaço da grávida.

“Mas nós não temos que disputar o espaço com o pai. A doula não é acompanhante, é uma profissional de assistência ao parto. Mas, no nosso cenário actual, esses papéis misturam-se”, lamentou.

A presença de uma doula pode ser fundamental para a mãe porque, voltando à questão do conforto: “A maior parte das mulheres recebem anestesia epidural porque não tem outro tipo de conforto. Bola de Pilates e chuveiro com água quente? Como forma de alívio? De que adianta se está sozinha?”

“O maior conforto que uma mulher em trabalho de parto pode sentir é a presença de outra pessoa, de outra mulher. E depois podemos utilizar o nosso arsenal: massagem, toque, aromaterapia… A doula conhece a gestante, já a acompanha há meses. São pessoas que se conhecem. A doula conhece, sabe os medos, as ansiedades, sabe do que a grávida precisa. Consegue estabelecer conexão. É uma presença humana”.

Então há uma lei que proíbe a presença da doula na sala de parto? “Não. Mas também não há uma lei que garanta o nosso acesso – e é essa a prioridade da petição: ter acesso garantido, por lei”, explicou.

Como se lê na página da petição, a intenção é tentar a autorização da entrada das doulas nas maternidades, hospitais e demais equipamentos da rede de saúde, durante o parto e pós-parto, além das consultas (sempre que solicitado pela utente).

A petição conta com quase 1.400 assinaturas e passou a ser mais divulgada nesta semana, pela Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, porque nesta terça-feira arrancou a Semana Mundial da Doula.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

5 Comments

  1. Ui… mais uma seita??
    A jornalista frelancer quer estar presente num parto para fazer exatamente o quê (além de atrapalhar)?
    Se a lei não proíbe, devia! É urgente proibir mais estes vendedores de banha da cobra de se aproximarem dos partos!…

      • Mais uma pseudo-iluminada pelas seitas das pesudo-ciências… e sempre com argumentos geniais!…
        Depois das vigarices da acupuntura, do reiki, da homeopatia, etc, agora é a vez da seita das doulas atacar para faturar à custa dos mais “limitados”!
        É urgente colocar esses alucinados no seu lugar – que é no Facebook/YouTube, onde estupidificam os seus fiéis/clientes – mas longe dos hospitais/partos!…

  2. No Fundo Acabam por so Atrapalhar quem esta a trabalhar ,Levar mais agentes patogenicos para a sala de parto ,deve ser Chique ter uma Doula ao Serviço , sao as Modas

  3. Corram com estas seitas e afins do País, qualquer dia qurem que comecemos a rezar virados para MECA, vejam o que está a acontecer em França ( e noutros países da Europa), não deixem que os imigrantes que acolhemos queiram impor as suas regras e costumes. Experimentem ir viver para os Países Muçulmanos e não cumprirem as suas leis a ver o que acontece….

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