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Afinal, dormir mais nem sempre é benéfico para a saúde

Um novo estudo conclui que dormir uma sesta pode ser melhor do que dormir mais à noite e que os benefícios do sono estão mais relacionados com a qualidade do que com a quantidade de horas.

A sabedoria popular acredita que “dormir é meio sustento”, mas um novo estudo na Índia veio argumentar que passar mais umas horinhas na cama pode não trazer mais benefícios para a saúde, se esse sono extra não for de boa qualidade.

O estudo, publicado em Abril na The Quarterly Journal of Economics, analisou 452 trabalhadores de rendimentos baixos durante um mês na cidade de Chennai e concluiu que dormir uma sesta à tarde é mais benéfico do que dormir mais durante a noite, pelo menos para os trabalhadores que tinham um sono muito atribulado.

As conclusões foram feitas usando um actígrafo – equipamento semelhante a um relógio que detecta os movimentos do corpo e que pode registar dados clínicos que ajudam no diagnóstico de distúrbios do sono. Os actígrafos podem fazer análises enquanto as pessoas dormem nas suas próprias casas, o que garante que os participantes estudados dormem num ambiente que lhes é familiar.

Os investigadores deram informações e dicas aos trabalhadores para que melhorassem o ambiente onde dormem e conseguiram que, em média, dormissem mais trinta minutos por noite, mas os benefícios para a saúde que se esperavam não se verificaram.

Foram medidas a capacidade cognitiva, a productividade, a capacidade de tomar decisões e o bem-estar da amostra, e nenhum destes elementos foi beneficiado com a meia hora extra. “Para nossa surpresa, as intervenções durante a noite não tiveram nenhum efeito positivo nos factores que medimos”, explica Frank Schilback, economista do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) e co-autor do estudo à Science Alert.

O número médio de horas trabalhadas também desceu – talvez porque mais tempo a dormir significa menos tempo para trabalhar. Os voluntários ocuparam um cargo de inscrição de dados, um trabalho que foi criado especificamente para o estudo, para que a sua atenção e produção pudesse ser medida.

Os voluntários estudados dormiam antes do estudo uma média de cinco horas e meia das oito que passavam na cama. Depois do mês de experiências, o grupo de trabalhadores já dormia em média mais 27 minutos do que antes.

Esta baixa eficiência do sono dificulta o tipo de sono mais profundo e restaurador que é tão benéfico para a saúde. No dia-a-dia, os voluntários acordavam em média 31 vezes por noite, uma situação que é comparável com a de alguém num país desenvolvido que sofra de insónias ou apneia do sono.

“Em Chennai, podemos ver pessoas a dormir em carroças. Muitas vezes, há quatro ou cinco pessoas dormir num quarto que é barulhento e vê-se gente a dormir nos segmentos entre as estradas perto das auto-estradas”, explica Schilback, que acrescenta que é também quente e há muitos mosquitos na cidade indiana.

Metade dos participantes também começou a dormir uma sesta de meia hora durante o dia e aqui já se verificaram efeitos positivos, como uma maior productividade e uma melhor função cognitiva e bem-estar psicológico. Mesmo assim, o tempo de trabalho baixou.

Os investigadores referem que é preciso estudar mais o sono nos países em desenvolvimento e alertam que não se devem generalizar os resultados de estudos locais. Deve também haver mais foco na qualidade do sono, em vez da quantidade, e ter em conta o stress nas famílias de rendimentos mais baixos.

“Não há muitos trabalhos a estudar o sono das pessoas no seu dia-a-dia e espero que se estude mais os países em desenvolvimento e mais pobres, com um foco em resultados que as pessoas valorizem”, conclui Schilback.

AP, ZAP //

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