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Doentes do SNS com depressão vão fazer psicoterapia através do smartphone

A partir de setembro, os utentes do Serviço Nacional de Saúde com depressão ligeira a moderada vão poder contar com uma plataforma digital de autoajuda prescrita pelo médico de família para combater a doença e prevenir o suicídio.

Esta plataforma, que faz parte de um projeto da EUTIMIA – representante em Portugal da Aliança Europeia contra a Depressão, será apresentada na quarta-feira.

Trata-se de uma ferramenta cognitiva comportamental, por módulos, que as pessoas utilizam quando é prescrita pelo médico de família, e que depois é guiada pelo próprio médico de família ou enfermeiro ou psicólogo dos cuidados de saúde primários, que trabalham em equipa, explicou à Lusa o psiquiatra Ricardo Gusmão, dirigente da EUTIMIA.

A plataforma tem oito módulos, o que significa que em oito semanas se faz o tratamento, e “basicamente responde às necessidades de 90% dos doentes com depressão nos cuidados de saúde primários”.

Reconhecendo que nem todos os utentes usam Internet e smartphones, Ricardo Gusmão assegura que este é um instrumento que se “afigura como de crescente importância”, pois comprovadamente funciona, que “é o mais importante”.

Num dos módulos, exemplificados por Ricardo Gusmão, o despertador toca e a aplicação regista a que horas é que a pessoa acordou e pergunta imediatamente a que horas é que se deitou no dia anterior e como é que a pessoa dormiu. “Isto tem a ver com a qualidade do sono, que é importantíssimo para a saúde mental das pessoas”, acrescentou.

Se estiverem a fazer medicação, há um módulo de uma semana sobre essa questão, que responde às principais preocupações de cada um dos doentes com este assunto.

“As pessoas são chamadas a interagir com o smartphone ou o tablet e, desta forma, registar os resultados que são enviados para a pessoa que está a orientar este processo do tratamento”, afirmou.

Segundo o psiquiatra, está demonstrado cientificamente que funciona tanto como ir ao psicólogo fazer esta técnica cognitivo comportamental face a face.

“No fundo é uma psicoterapia adaptada à interação do individuo com ele próprio e com a ajuda de um terceiro”, sublinhou.

Para pôr em prática este projeto, os médicos vão ser treinados para reconhecer quem é que tem indicação para lhe ser prescrita esta plataforma e os enfermeiros e psicólogos vão ser treinados para fazer essa orientação. O projeto já começou, as ferramentas estão a ser adaptadas e estão a ser introduzidas melhorias, disse, acrescentando que o projeto “vai para o terreno depois de setembro”.

Em setembro, vai ser feita a formação primeiro dos líderes regionais – entre 12 e 20 pessoas que trabalham no norte – para depois estes treinarem “peritos em depressão” que trabalham nos cuidados de saúde primários e que ficam capacitados para diagnosticar e tratar a depressão, inclusivamente por meios não farmacológicos.

Ao todo o projeto prevê a formação de um universo de 4.300 profissionais dos cuidados de saúde primários – 1.700 médicos de família e 2.435 enfermeiros, entre outros especialistas -, dos quais 900 serão os considerados peritos em depressão.

O projeto vai envolver um milhão de utentes, sendo que se estima que 200 mil sofram de depressão. Os outros envolvidos são pessoas com patologias mentais comuns que utilizam os cuidados de saúde primários.

Este projeto, juntamente com outro que visa promover a saúde mental em contexto escolar e combater o ciberbullying, vão ser desenvolvidos graças a uma verba de 730 mil euros obtida através da Administração Central do Sistema de Saúde, no âmbito do programa EEA Grants, uma linha de financiamento concedida pela Islândia, Liechtenstein e Noruega aos estados Membros da União Europeia.

A EUTIMIA é uma organização não governamental com menos de dois anos de existência criada para apoiar sobreviventes do suicídio.

/Lusa

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