Há doenças não transmissíveis que, afinal, podem ser contagiosas (incluindo o cancro)

Annie Cavanagh / Wellcome Images

Células cancerígenas

A pesquisa descobriu que as pessoas que convivem proximamente partilham grande parte do seu microbioma intestinal e deu um novo fôlego à hipótese de que as doenças não transmissíveis, como o cancro ou as doenças cardíacas, podem afinal ser transmissíveis.

Um novo estudo publicado a semana passada na revista Nature chegou a uma conclusão que promete mudar a Medicina: há doenças que até agora se pensava serem intransmissíveis e que, afinal, podem ser contagiosas.

A pesquisa analisou as bactérias da saliva e das fezes de 4840 pessoas e informações e informações sobre o hospedeiro, o que permitiu avaliar-se a possível transmissão de bactérias entre as mães e as crianças até aos três anos de idade e entre outros membros da família ou pessoas próximas.

A amostra era também diversa, incluindo voluntários de 20 países.

As conclusões mostram mesmo que há bactérias “saltitantes” que transmitem as doenças entre pessoas próximas, diz ao jornal El País a microbióloga espanhola Mireia Vallès, investigadora da Universidade de Trento, em Itália, e autora principal do estudo, a

Nos casos das mães com os filhos pequenos, os dois partilham 34% das cepas bacterianas do intestino.

Já duas pessoas que vivem na mesma casa partilham 12% do seu microbioma intestinal enquanto que dois gémeos adultos que vivam separados partilham apenas 8% — a mesma percentagem que quaisquer outras pessoas que convivam diariamente, sejam conhecidas ou não.

Fabio Colombi / El País

A microbióloga espanhola Mireia Vallès, investigadora da Universidade de Trento, em Italia.

A pesquisa sugere que a transmissão ocorreu em grande parte horizontalmente e “foi intensificada pela duração da coabitação”, mas os autores não rejeitam a opção de transmissão fecal devido à má higienização das mãos.

Este estudo dá assim um novo fôlego à teoria de que há doenças que aparentemente não são transmissíveis, mas que, afinal, podem ser contagiosas.

O microbiólogo canadiano Brett Finlay, que primeiro abordou a hipótese num estudo de 2020, critica o facto de a atual definição de doenças não transmissíveis — que inclui o cancro, as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias — não incluir o envolvimento microbiano — que agora se sabe ser facilmente transmissível de pessoa para pessoa.

“Este estudo fascinante reforça a ideia de que temos que repensar as definições de doenças não transmissíveis”, diz o cientista. “Temos que saber escolher bem os nossos parceiros”, conclui Finlay, num tom humorístico.

ZAP //

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