Documentos revelam desespero de Thatcher com livro sobre escândalos de espionagem

Williams, U.S. Military / Wikimedia

Margaret Thatcher, antiga primeira-ministra britânica conhecida como a “Dama de Ferro”

Documentos recentemente tornados públicos no Reino Unido revelam quão profundamente a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher foi afetada pelas revelações do livro “Spycatcher”, da autoria de Peter Wright, antigo oficial do MI5.

O livro, no qual constavam acusações sensacionais que incluíam casos de espionagem em embaixadas estrangeiras e complots contra o ex-primeiro-ministro Harold Wilson, causou na altura um grande tumulto no Reino Unido.

A reação da então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher às revelações do livro dão nota da seriedade com que o governo britânico lidou na altura com as revelações.

Estou completamente devastada pelas revelações do livro. As repercussões da sua publicação podem ser enormes”, escreveu a ‘Dama de Ferro’ num documento em outubro de 1986.

O governo britânico tentou na altura proibir a publicação do livro, tendo sido ponderadas soluções extrajudiciais que incluíam a intermediação do magnata da comunicação social australiano Kerry Packer.

Segundo o The Guardian, o governo mostrou-se particularmente preocupado com a credibilidade de Wright, dada a sua posição anterior como director assistente do MI5, e com a gravidade das acusações, como a que afirmava que Sir Roger Hollis, então diretor-geral do MI5, era um espião soviético.

Inicialmente proibido no Reino Unido em 1985, “Spycatcher” ganhou atenção internacional depois de ter sido publicado na Austrália e nos EUA. O governo britânico enfrentou na altura complexo desafio legal, perdendo o controlo da situação à medida que excertos do livro eram divulgados em jornais e livrarias pelo mundo.

Os esforços do governo para impedir a publicação de “Spycatcher” basearam-se no dever de confidencialidade de Wright, que tinha assinado o chamado “Official Secrets Act”, e na ideia de que as acusações contidas no livro não era novas, tinham sido investigadas pelo MI5 sem que tivessem sido encontradas provas.

Malcolm Turnbull, advogado de Wright, sugeriu uma solução intermediada por Packer, propondo que o governo britânico adoptasse um sistema que permitisse a ex-agentes solicitar autorização para publicar as suas histórias.

Em 1988, a Câmara dos Lordes do Reino Unido decidiu que o livro não continha segredos que justificassem a sua proibição, autorizando a sua venda no país. Contudo, foi negado a Wright o direito de receber royalties no Reino Unido.

Wright faleceu em 1995, aos 78 anos, deixando um legado de controvérsia e discussão sobre segurança e privacidade no mundo da espionagem.

ZAP //

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