Apesar de uma sensação de alívio e satisfação imediata, os psicólogos alertam para as consequências negativas do gesto.
Os motivos variam: excesso de trabalho, falta de reconhecimento, negligência num processo de promoção ou descontentamento com o salário. Estas são algumas das razões pelas quais os utilizadores do TikTok iniciaram uma nova moda na rede social, desta feita com ligações ao mercado de trabalho.
Batizada como “rage applying”, a tendência consiste em submeter candidaturas de forma impulsiva e insistente perante um comportamento agressivo ou menos correto do patrão.
Os membros da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) e os Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) mais jovens têm recorrido à rede social para denunciar as suas histórias, descrevendo que quando chegam a um ponto de rutura começam a enviar centenas de candidaturas para conseguirem fugir o mais rápido possível das empresas em causa.
De acordo com os relatos, passadas algumas semanas, começam a receber múltiplas propostas, com salários mais gratificantes e com chefes, aparentemente, fantásticos.
À primeira vista, podíamos estar perante uma atitude impulsiva, mas tal como destaca a revista Forbes, a verdade é que os jovens trabalhadores nem sempre têm um percurso fácil, sobretudo no contexto atual, marcado pela inflação e das taxas de juro, com impacto direto no preço das casas e de outros bens de consumo essenciais para a sua emancipação. Poupar parece ser um verbo apenas para pronunciar.
Há ainda quem perspetive que esta geração de jovens poderá ser a primeira a não ter uma vida melhor que a dos progenitores, pelo menos no contexto norte-americano.
É importante não esquecer que esta é também uma força de trabalho que já passou por fenómenos como a grande a grande demissão, o ghosting ou a demissão silenciosa — tendências que afetaram o mercado de trabalho no pós pandemia e que mudaram a mentalidade dos jovens em relação à sua vida profissional.
Este comportamento parece ser consequência de um perfil de trabalhadores que se opõe a solicitar uma reunião com o seu superior quando algo não está bem, de forma a proceder a mudanças ou alterações quando o trabalho não está a decorrer como esperavam — especialmente quando essas conversas ocorrem por telefone.
“A Geração Z e os Millennials têm muito menos experiência a falar ao telefone porque as mensagens de texto têm sido o principal modo de comunicação da sua geração”, explicou Alison Papadakis, diretora de estudos piscológicos da Johns Hopkins University.
“Como têm muito menos experiência a falar ao telefone, sentem muito menos conforto com ele”. Sabemos que a comunicação é uma parte essencial de qualquer relação, não sendo a profissional uma exceção.
Como tal, em vez de começar a disparar candidaturas, um dedo do meio figurado, talvez fosse mais proveitoso, entendem os especialistas, solicitar uma conversa particular com os superiores.
Desta forma, os funcionários poderiam expor os seus sentimentos, mostrar o porquê de não se sentirem valorizadores e apontarem exemplos da sua produtividade — que podem não estar refletidos no seu salário. Esta conversa, sim, pode resultar em melhores condições, como uma promoção, um aumento ou mudança de posto.
Da psicologia sabemos, com certeza, que tomar decisões com base na raiva nunca é boa solução: a adrenalina aumenta quando estamos chateados e dificilmente pensamos corretamente.
É, por isso, provável, que acabemos a aceitar um trabalho do qual nos arrependemos mais tarde. Os especialistas aconselham que esta energia súbita seja aplicada na estruturação de um plano profissional, que permita atingir determinados objetivos num dado período de tempo.
Apesar de a técnica das candidaturas significar um alívio momentâneo, já que leva o indivíduo a tomar a iniciativa e fazer algo por si, o motivo da frustração podem continuar presentes — e ressurgir, por exemplo, na entrevista para o novo emprego e até no desempenho das funções.