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Mandíbula dos Habsburgos era anormalmente grande (e já se sabe porquê)

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Durante séculos, a família Habsburgo governou grande parte da Europa central e ficou marcada por muitos dos seus membros partilharem uma mandíbula grande e saliente, conhecida como a “mandíbula de Habsburgo”.

Novas investigações sugerem que esta característica proeminente terá sido provavelmente o resultado da consanguinidade geracional. Durante mais de 200 anos, as famílias da Áustria e de Espanha casaram-se entre si, garantindo o seu nome e poder em grande parte do continente.

Esta família chegou a reinar Portugal, durante a dinastia filipina, no período de união entre o nosso país e Espanha, isto é, em que o Rei de Espanha era simultaneamente o Rei de Portugal. Os três reis da dinastia filipina – Filipe I, II e III – pertenciam à Casa de Habsburgo e governaram em Portugal entre 1580 e 1 de dezembro de 1640.

Agora, os investigadores dizem que a mandíbula famosa da família era mais do que apenas uma característica hereditária. “A dinastia dos Habsburgos foi uma das mais influentes da Europa, mas tornou-se conhecida por consanguinidade, que foi a sua eventual queda. Mostrámos pela primeira vez que há uma clara relação positiva entre consanguinidade e aparência da mandíbula de Habsburgo”, afirmou o autor do estudo, Roman Vilas, da Universidade de Santiago de Compostela em comunicado, divulgado pelo EurekAlert.

Os investigadores usaram a dinastia Habsburgo como um “laboratório genético” e consultaram dez cirurgiões maxilofaciais para analisar as deformidades faciais em 66 retratos históricos, que estão expostos em museus de todo o mundo.

Os cirurgiões tiveram de diagnosticar o grau de 11 características do prognatismo mandibular (MP), ou “mandíbula de Habsburg”, e sete características da deficiência maxilar (DM), caracterizada por um lábio inferior proeminente e uma ponta nasal pendente.

A análise genética de mais de seis mil indivíduos de mais de 20 gerações também encontrou uma forte relação entre o grau de consanguinidade e o grau de MP.

Os indivíduos com grande coeficiente de consanguinidade apresentaram versões extremas destas condições, por exemplo o rei de Espanha, Carlos II, Margarida da Áustria, rainha de Espanha e o rei Leopoldo II do Sacro Império Romano-Germânico. Dos analisados, Maria da Borgonha, que se casou com a família em 1477, tinha o menor grau de ambas as características.

“Como temos genealogias profundas e precisas dos reis e rainhas da dinastia espanhola dos Habsburgo, podemos usar isto em nosso proveito para estudar a relação entre a consanguinidade e o rosto humano. O facto de que uma complexa mudança de característica sob consanguinidade é prova da sua arquitetura genética dominante”, disse o autor do estudo Francisco Ceballos, em declarações ao IFLScience.

Assim, de acordo com o estudo publicado este mês na revista científica Annals of Human Biology, características que possuem algum componente dominante na sua arquitetura genética serão alteradas pela consanguinidade através de um fenómeno chamado depressão por consanguinidade, uma redução na aptidão biológica que sugere que a “mandíbula de Habsburgo” possa ser considerada um gene recessivo.

“Aprendemos várias coisas através deste estudo. Primeiro, que a ‘mandíbula de Habsburgo’ não é apenas um problema de prognatismo, mas a combinação de duas “questões”: prognatismo (MP) e a deficiência maxilar (DM). Também encontramos uma grande correlação entre essas duas características e que o prognatismo mandibular é afetado pela consanguinidade”, explicou Ceballos, acrescentando que MP e MD são correlacionadas e podem ter duas arquiteturas genéticas diferentes e padrões herdados.

Porém, os autores não podem descartar a hipótese de o rosto dos Habsburgos serem simplesmente uma característica hereditária e que o estudo seja uma primeira aproximação da arquitetura genética do rosto humano. Além disso, o estudo é de baixo tamanho amostral.

ZAP //

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