China: Dialetos locais em declínio à medida que governo impõe o Mandarim

Línguas locais chinesas estão a cair em desuso, à medida que o governo faz pressão para que a identidade nacional seja uniforme.

Na China, o declínio dos dialetos locais entre a geração mais jovem tem-se tornado cada vez mais evidente, até porque Xi Jinping procura reforçar uma identidade uniforme no país através do mandarim.

Qi Jiayao contou, em declarações ao The Guardian, que quando visitou a cidade natal da sua mãe, Shaoxing, no leste da China, há cerca de dois anos, não conseguiu falar com os filhos do primo no dialeto local.

“Nenhum deles era capaz [de falar aquele dialeto]”, recorda o linguista de 38 anos, que ensina mandarim nos Estados Unidos.

E a verdade é que o mandarim é agora falado por mais de 80% da população da China, contra 70% há uma década atrás. Mas não ficará por aqui: no mês passado, o conselho de estado da China prometeu aumentar o número para 85% nos próximos quatro anos.

O problema é que a popularização de uma língua nacional padrão acontece muitas vezes à custa das línguas regionais, incluindo dialetos da maioria Han e línguas étnicas como o mongol e o uigur, escreve o jornal britânico.

Na Mongólia Interior, por exemplo, regulamentos locais permitiram, em 2016, que as escolas étnicas utilizassem a sua própria língua para o ensino. Esta política tinha como objetivo desenvolver as competências linguísticas dos estudantes e cultivar o bilinguismo. Mas, quatro anos mais tarde, a regulamentação foi invertida para favorecer o mandarim.

No entanto, não são apenas as línguas étnicas que estão a ser afetadas. Em 2017, um inquérito mostrou que entre os dez grupos de dialetos, o chinês Wu – que inclui o dialeto de Xangai e é falado por cerca de 80 milhões de pessoas na parte oriental do país – tem o menor número de utilizadores ativos de sempre com idades compreendidas entre os seis e os 20 anos.

Em Xangai, onde Qi cresceu, ativistas têm encorajado o uso do seu dialeto na televisão local e, em 2020, um representante político local exortou o governo de Xangai a investir na promoção daquela língua.

Mas as leis chinesas impedem os canais de televisão por satélite de transmitirem em dialetos locais.

Em 2000, a China aprovou leis para normalizar a língua falada e escrita. Em cada província, um comité linguístico aconselha, monitoriza e policia o uso do mandarim. A força da implementação varia, mas não é difícil para um governo aplicar a sua política.

Em setembro, a província do sudoeste de Sichuan proibiu funcionários públicos e quadros do partido de utilizarem o dialeto local no local de trabalho, por exemplo.

“O Estado tem vindo a dizer às pessoas que existem benefícios visíveis e tangíveis de falar chinês padrão mandarim”, explicou Fang Xu, sociólogo urbano da Universidade da Califórnia, Berkeley, e autor de “Silencing Shanghai: Língua e Identidade na China Urbana”.

“Desde então, muitas línguas regionais – incluindo o Shanghainese – têm sofrido a mesma sina”, disse.

Um estudo de 2010 da Universidade da União de Pequim descobriu que quase metade dos residentes locais nascidos após 1980 preferem utilizar o chinês mandarim ao dialeto de Pequim.

Mas nem tudo são más notícias, acrescentou. No passado, os migrantes de fora de Xangai sentiam-se frequentemente discriminados e excluídos por não conseguirem falar o dialeto local. Hoje em dia, a exclusão social já não depende da fala.

“Pensando a nível nacional, pode ser inevitável [a uniformização da língua]. O desaparecimento dos dialetos parece ser apenas o preço que pagamos”, concluiu Qi.

ZAP //

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