Em plena pandemia “há muitos diagnósticos precoces de cancro que não estão a ser feitos”

National Cancer Institute / Wikimedia

Vítor Rodrigues diz que a participação nos rastreios é neste momento de 80% a 85% do que era antes da pandemia. O médico recorda que os centros de saúde não estão a conseguir dar resposta aos rastreios do colo do útero e colorretal.

Numa entrevista ao DN, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro lembra que os rastreios do cancro da mama, colo do útero e colorretal “estiveram três meses parados” a partir de 13 de março. A situação foi ainda pior no norte do país.

“Neste momento a participação é de 80% a 85% do que era antes, sendo que a taxa de participação era de 70%, das mulheres convocadas, em 100 mulheres iam 70 e agora vão 56”, alerta.

O presidente lembra que enquanto que o rastreio do cancro da mama está “muito pouco dependente” dos centros de saúde, o mesmo não acontece com o cancro do colo do útero. “Na medida em que estão muito assoberbados com os problemas de covid, estão com extremas dificuldades em retomar as atividades ditas normais”, garante Vítor Rodrigues.

Já no caso do cancro colorretal, que “está muito pouco desenvolvido a nível nacional”, a retoma também foi “muito pequena”. “Uma deteção de sangue nas fezes obriga a uma colonoscopia. Este é um procedimento com anestesia, que demora pelo menos meia hora”, justifica.

“Com tanta consulta presencial que não é feita, com tanto exame complementar de diagnóstico que não é feito, é evidente que a referenciação diminui. Há muitos diagnósticos precoces que não estão a ser feitos. Só estão a ser feitos os que apresentam sintomas”, lamenta.

Vítor Rodrigues aponta a “grande falta de organização, estruturação e operacionalização” do Sistema Nacional de Saúde, que é “muito desigual” e não responde às “realidades diferentes em todo o país”. E deixa uma dica: “temos os privados, os serviços de apoio social, e poderíamos utilizar toda essa complementaridade do sistema social e do sistema privado para colmatar as dificuldades óbvias e naturais do SNS”.

O médico acrescenta que também as próprias autarquias poderiam ser um apoio, cujo papel nas zonas rurais poderia garantir uma “estrutura de resposta que melhorasse estes problemas”. Ainda assim, o clínico está confiante numa retoma total dos rastreios, caso não haja um novo confinamento.

ZAP //

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