Os inspetores da Unidade Nacional de Contraterrorismo, da Polícia Judiciária, têm cerca de 20 mandados de detenção para elementos do grupo motard Hells Angels.
A notícia é avançada pelo Diário de Notícias. Já houve 20 detidos no Algarve, Norte e Lisboa. A PJ tem cerca de cem inspetores envolvidos na operação e as detenções estão a ser feitas em vários pontos do país com a colaboração do Ministério Público.
A “criminalidade especialmente violenta e altamente organizada”, e as suspeitas de prática de crimes que vão desde a tentativa de homicídio, roubo, ofensa à integridade física, danos, associação criminosa, estão entre as motivações para uma operação que teve início em julho de 2018, e deteve 60 pessoas, e que continua esta terça-feira. Dos detidos em 2018, 38 continuam em prisão preventiva. “Foi uma machadada na organização do grupo”, admitiu na altura a diretora da UNCT, Manuela Santos.
Vigiados pela PJ e pelo Serviço de Informações de Segurança (SIS) há vários anos, acabou por ser um ataque dos Hells Angels a elementos de um grupo rival – Os Bandidos – cuja liderança estava a ser pretendida pelo ex-líder dos skinheads, Mário Machado, a desencadear todas as detenções.
Esta investigação ganhou forma a partir de 2016, quando os investigadores da UNCT começaram a reunir vários casos de violência a envolver elementos deste grupo. Em março de 2018 tudo se precipitou quando um grupo de cerca de 40 destes motards fora-da-lei invadiram, com barras de ferro, paus e facas, um restaurante no Prior Velho, para agredir os rivais.
Entre eles, Mário Machado, que escapou ileso, com um historial de conflitos com os Hells Angels, do tempo em que liderava a fação mais violenta dos cabeças rapadas no nosso país, os Portuguese Hammerskins.
Ambos os grupos de motards têm também ligações à extrema-direita violenta, com ostentação de símbolos neonazis por alguns dos seus elementos. São considerados uma ameaça à segurança nacional.
Dois dos detidos foram condenados pela morte do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, em 1995, no Bairro Alto. Estavam entre o grupo de skinheads que agrediu violentamente vários negros na noite de 10 de junho.
Estas novas detenções surgem como resultado das investigações da UNCT, coordenadas pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que continuaram durante este período. A sua identificação foi feita com base no cruzamento de imagens de videovigilância, captadas pelas câmaras localizadas no percurso até ao Prior Velho, e na análise dos registos de comunicações de telemóveis.
“É uma questão de liberdade”, assinalou o diretor nacional da PJ há um ano, na altura das primeiras detenções. “A Polícia Judiciária nunca o permitirá que a liberdade não seja um acento tónico em qualquer ponto do território nacional”, afirmou, salientando ainda que os Hells Angels estavam a adquirir, pela violência, supremacia entre os grupos motards e, “coagindo-os” a criar “um clima de terror e medo”. Esta investigação e respetivos resultados é o maior processo europeu contra os Hells Angels.