Uma nova investigação acaba de dar resposta ao enigma do vidro da Líbia, que intriga cientistas há um século. O material, que chegou a ser utilizado pelo rei Tutankhamun, é fruto do impacto de um meteorito e não de uma explosão de ar atmosférico, tal como defendiam outros especialistas.
Para a investigação, cujos resultados foram esta semana publicados na revista científica Geology, a equipa examinou grãos minúsculos do mineral zircão em amostras de vidro recolhidas no deserto da Líbia, que se formaram há 29 milhões de anos e se estenderam por vários milhares de quilómetros quadrados a oeste do Egito.
O vidro em causa é composto quase unicamente por sílica pura e tem uma tonalidade amarelada. Foi este mesmo material que foi utilizado para fazer um besouro que faz parte do Peitoral do rei Tut, faraó egípcio que governou de 1336 a 1327 a.C.
O autor principal do estudo, Aaron Cavosie, disse que os zircões encontrados nas amostra de vidro preservam evidências da presença de um mineral de alta pressão, o reidite, que apenas se forma durante o impacto de um meteorito.
“[Este] tem sido um assunto de debate contínuo sobre se o vidro se formou durante o impacto de um meteorito ou se se formou durante uma explosão de ar, que ocorre quando os asteróides, chamados de Near Earth Objects, explodem e depositam energia na atmosfera da Terra”, explicou o especialista, citado em comunicado.
“Quer os impactos de meteoritos, quer as explosões de ar podem causar a fusão, no entanto, apenas impactos de meteoritos criam ondas de choque que formam minerais de alta pressão, portanto, encontrar evidências de reidite confirma que o vidro foi criado como resultado do impacto de um meteorito”, sustentou.
De acordo com Cavosie, a ideia de que o vidro poderá ter sido formando durante uma explosão atmosférica ganhou popularidade depois de uma grande explosão ter ocorrido na Rússia, em 2013. O fenómeno, que causou danos nos habitantes, não fez com que a fusão dos materiais à superfície ocorresse.
“Modelos anteriores sugeriram que o vidro do deserto da Líbia representava uma grande explosão de ar, mas os nossos resultados mostram que este não é o caso”, disse Cavosie.
“Impactos de meteoritos são eventos catastróficos, mas não são comuns. Já as explosões de ar, ocorrem com mais frequência, mas agora sabemos que não esperamos um evento de formação de cristais no deserto da Líbia num futuro próximo, o que é motivo para um certo conforto”, rematou o cientista.
A investigação contou também com a colaboração do diretor do Museu de História Natural de Viena, o professor Christian Koeberl.