Desvendada a origem do misterioso “último primata” da América do Norte

Kristen Tietjen / KU Biodiversity Institute and Natural History Museum.

Ekgmowechashala, conceito artístico

Um primata misterioso apareceu na América do Norte há 30 milhões de anos, muito tempo depois de os primatas nativos do continente terem desaparecido, e ainda mais tempo antes da próxima grande onda de primatas – os humanos – chegarem.

Semelhante a um lémure e considerado “o último primata da América do Norte”, o Ekgmowechashala intriga os paleontólogos há muito tempo.

Seria esta espécie o último reduto dos primatas norte-americanos, ou teria migrado de outro lugar? E como sobreviveu às condições que extinguiram os outros primatas do continente, 4 milhões de anos antes?

Um novo estudo, publicado esta segunda-feira no Journal of Human Evolution, lançou agora luz sobre as origens do misterioso primata.

O estudo, liderado por Kathleen Rust, investigadora da Universidade do Kansas, utilizou evidências fósseis, principalmente restos dentários, para desvendar as origens de Ekgmowechashala.

Os primatas apareceram pela primeira vez na América do Norte durante a época do Eoceno, há cerca de 56 milhões de anos, tendo prosperado durante mais de 20 milhões de anos.

No entanto, o início da época do Oligoceno, marcado por climas mais frios e secos, levou à sua extinção. Mas, surpreendentemente, o Ekgmowechashala surge no registo fóssil das Grandes Planícies mais de 4 milhões de anos após este evento de extinção.

Na década de 1990, uma equipa de investigadores liderada por Chris Beard, paleontólogo da Universidade do Kansas, descobriu na Formação Nadu, na China,  fósseis de Palaeohodites, uma espécie com características semelhantes ao Ekgmowechashala.

Esta descoberta levou à hipótese de que o Ekgmowechashala não seria um remanescente dos primatas da América do Norte, mas um imigrante da Ásia, que terá migrando para a América através de Beringia, a ponte de terra que se formava em períodos glaciares no estreito de Bering.

A equipe de Kathleen Rust, recolheu dados morfológicos extensivos e usou software de reconstrução filogenética para criar uma árvore evolutiva da espécie. Esta análise sugeriu uma estreita relação evolutiva entre o Ekgmowechashala e a América do Norte e o Palaeohodites da China, apoiando a hipótese de imigração.

“A nossa análise deita por terra a ideia de que o Ekgmowechashala seja uma relíquia ou uma espécie nativa sobrevivente dos primatas ancestrais da América do Norte”, diz Rust numa nota de imprensa publicada no site da Universidade do Kansas.

“Em vez disso, é uma espécie migrante, que evoluiu na Ásia e migrou para a América do Norte num período surpreendentemente frio — provavelmente, através de Beríngia”, acrescenta a investigadora.

Segundo Rust, desvendar o mistério da origem do Ekgmowechashala é particularmente interessante, porque o seu aparecimento na América do norte aconteceu durante era de profundas alterações climáticas e ambientais — muito à semelhança das que estão a ocorrer atualmente.

ZAP //

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