Destroços arqueológicos de uma embarcação, possivelmente um navio holandês do século XVII, foram encontrados na sexta-feira na lagoa de Melides (Grândola) e recolhidos para análise e identificação, revelou este domingo a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).
De acordo com a DGPC, num comunicado este domingo divulgado, as fortes chuvadas ocorridas no início deste mês deixaram expostos, “durante um breve período”, os destroços de uma embarcação que se suspeita ser o Schoonhoven, um navio holandês que, “segundo registos históricos, naufragou ao largo de Melides a 23 de janeiro de 1626”.
No local, foi feito um registo tridimensional do destroço e colhida “uma amostra duma tábua de forro exterior da embarcação”, que será estudada para validar aquela hipótese.
A investigação incluirá uma análise aos anéis de crescimento da madeira (dendrocronologia) dos destroços encontrados, o que permitirá saber “a data de abate da árvore que deu origem à tábua, a sua espécie, ou ainda o tipo de clima onde cresceu”.
Segundo a DGPC, os trabalhos no local foram feitos “de emergência” pela equipa do projeto “Um mergulho na História”, especializado em “deteção, escavação e divulgação de naufrágios históricos”.
“A monitorização e avaliação” foram asseguradas por uma equipa do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em conjunto com a Direção Regional de Cultura do Alentejo e a Câmara Municipal de Grândola.
Na operação estiveram ainda envolvidas ainda a Administração da Região Hidrográfica do Alentejo, a Guarda Nacional Republicana (GNR), a Capitania do Porto de Sines e a Autoridade Marítima Nacional.
O achado arqueológico, “só visível durante a maré-baixa”, “foi reenterrado pelas dinâmicas do estuário prestes também a desaparecer quando a Lagoa fechar de novo”, refere a DGPC em comunicado.
Segundo a DGPC, outros destroços, possivelmente do mesmo na navio, já tinham sido antes identificados por mergulhadores na lagoa de Melides.
Há documentação que regista que aquele navio holandês, com 400 toneladas, partiu a 20 de dezembro de 1625 da ilha de Texel, nos Países Baixos, naquela que seria a “sua terceira viagem em direção à Ásia, num percurso que se vê interrompido pelo seu naufrágio na costa de Portugal”.
“O navio terá sido arrojado contra a costa, ou tentado abrigar-se em Melides numa última manobra desesperada”, refere a DGPC.
“A documentação inédita, pertencente quer ao Arquivo Histórico Ultramarino, quer aos Arquivos Holandeses, permitiu, não só identificar Melides como o local da ocorrência deste naufrágio como também dar a saber as diligências desenvolvidas por instituições locais no sentido de arrecadar os salvados arrojados à costa”, lê-se na nota de imprensa.
// Lusa