/

Desfeito o mistério do lado oculto da lua. Tinha 55 anos.

Pieter v Marion / Flickr

-

A “face da Lua” surgiu quando meteoróides atingiram o lado da Lua voltado para a Terra, criando grandes mares planos de basalto que vemos como áreas escuras. Mas não existe nenhuma “face” no lado oculto da Lua e, agora, os cientistas sabem porquê.

“Lembro-me que da primeira vez que vi um globo da Lua, quando era miúdo, fiquei surpreendido porque o lado oculto parecia tão diferente da face visível,” afirma Jason Wright, professor assistente de astrofísica. “Só existiam montanhas e crateras. Onde estavam os mares? Acontece que isto é um mistério desde a década de 1950.”

Este mistério tem o nome de Problema das Terras Altas do Lado Oculto Lunar e remonta a 1959, quando a sonda da União Soviética, Luna 3, transmitiu as primeiras imagens da face oculta da Lua para a Terra.

Chamava-se de lado ou face oculta ou escura porque era desconhecida, não porque a luz solar não chegava lá. Os cientistas imediatamente notaram muito menos “mares” nesta parte da Lua que está sempre virada para longe da Terra.

Jason Wright, Steinn Sigurdsson, professor de astrofísica e Arpita Roy, estudante de pós-graduação em astronomia e astrofísica e autora principal do estudo, perceberam que a ausência de mares, que é devida a uma diferença na espessura da crosta entre o lado visível da Lua e o seu lado oculto, é uma consequência de como a Lua foi originalmente formada.

psu.edu

A astrónoma Arpita Roy, autora principal do estudo que revelou o mistério da face oculta da Lua

A astrónoma Arpita Roy, autora principal do estudo que revelou o mistério da face oculta da Lua

Os cientistas publicaram os seus resultados na edição de 9 de Junho da revista Astrophysical Journal Letters.

O consenso geral sobre a origem da Lua é que provavelmente se formou pouco depois da Terra e foi o resultado de uma colisão quase superficial, mas devastadora, entre um objecto com o tamanho de Marte e a Terra.

Esta Teoria de Impacto Gigante sugere que as camadas exteriores da Terra e do objecto foram expelidas para o espaço e eventualmente formaram a Lua.

“Pouco depois do impacto gigante, a Terra e a Lua estavam muito quentes,” afirma Sigurdsson. A Terra e o objecto impactante não derreteram apenas; partes foram vaporizadas, criando um disco de rocha, magma e vapor em torno da Terra.

“A Lua e a Terra preenchiam grande parte dos céus uma da outra,” afirma Arpita Roy.

A Lua estava 10 a 20 vezes mais próxima da Terra do que está agora, e os astrónomos descobriram que assumiu rapidamente uma posição de acoplamento de marés, em que o período de rotação da Lua coincide com o período de translação em redor da Terra.

A mesma face visível provavelmente esteve desde aí sempre orientada para a Terra. O bloqueio de marés é um produto da gravidade de ambos os objectos.

A Lua, sendo bem mais pequena que a Terra, arrefeceu mais rapidamente. Dado que a Terra e a Lua estão gravitacionalmente acopladas desde a sua formação, a ainda quente Terra – mais de 2500 graus Celsius – propagou calor na direcção do lado visível.

O lado oculto, longe da Terra em ebulição, arrefeceu lentamente, enquanto o lado virado para o nosso planeta foi mantido derretido, criando um gradiente de temperatura entre as duas faces.

Este gradiente foi importante para a formação da crosta da Lua. A crosta da Lua tem grandes concentrações de alumínio e cálcio, elementos muito difíceis de vaporizar. “Quando o vapor de rocha começa a arrefecer, os primeiros elementos que ‘nevam’ são o alumínio e o cálcio,” afirma Sigurdsson.

O alumínio e o cálcio condensaram-se preferencialmente na atmosfera do lado oculto da Lua porque o lado visível estava ainda demasiado quente.

Milhares de milhões de anos depois, estes elementos combinaram-se com os silicatos no manto da Lua para formar feldspatos de plagióclase, que eventualmente se mudaram para a superfície e formaram a crosta lunar, comenta Arpita Roy. “A crosta da face oculta tinha mais destes minerais e é mais espessa”.

A Lua desde então arrefeceu e já não está líquida por baixo da superfície. No início da sua história, grandes meteoróides atingiram o lado visível da Lua e perfuraram a crosta, libertando grandes lagos de lava basáltica que formaram os mares lunares.

Quando os meteoróides atingiam o lado oculto da Lua, na maioria dos casos a crosta era demasiado espessa e o magma não derramava para a superfície, criando o lado oculto com vales, crateras e terras altas, mas quase sem mares.

55 anos depois, mistério resolvido.

CCVAlg

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.