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No deserto mais seco do Mundo, a chuva mata

Racortesl / Flickr

Deserto do Atacama, no Chile

No deserto mais seco e mais antigo da Terra, as coisas não funcionam da mesma maneira que noutros lugares. A água, por exemplo, não é uma bênção.

No deserto do Atacama, no Chile, as chuvas anómalas revelaram-se uma maldição: a água traz a morte, extinguindo a vida.

Acredita-se que o Atacama permaneceu num estado permanentemente hiperárido durante cerca de 15 milhões de anos – e não há registos de que tenha visto chuvas significativas nos últimos 500 anos.

Isto mudou abruptamente há alguns anos, quando o deserto passou por períodos de chuva incrivelmente raros em março e agosto de 2015, e depois novamente em junho do ano passado. A longa seca terminou, e também “terminaram” outras coisas: formas de vida que evoluíram para suportar um ecossistema hiperárido – e que não conseguiam lidar com a chuva súbita.

“Quando as chuvas chegaram ao Atacama, esperávamos que as flores e os desertos voltassem à vida”, diz o astrobiólogo Alberto Fairén, da Universidade de Cornell. “Em vez disso, percebeebmos o contrário, pois descobrimos que a chuva no centro hiperárido do deserto de Atacama causou uma extinção em massa da maioria das espécies”.

De acordo com um estudo publicado a 12 de novembro na revista Nature, antes das chuvas chegarem a Atacama, amostras de solo retiradas da região de Yungay, localizada no núcleo do deserto, mostraram evidências de 16 tipos diferentes de espécies microbianas.

Devido às suas características, a área é frequentemente estudada como uma “espécie de proxy” para Marte, sendo o ambiente de Atacama um dos análogos mais próximos existentes para investigar como a vida pode encontrar um caminho no Planeta Vermelho.

Após os eventos de chuvas, a análise do solo mostrou que a população microbiana de Yungay sofreu extinções em massa que dizimaram 75 a 87% das espécies, mesmo quando a água ajudou a vida a prosperar noutras partes do deserto.

“Depois de chover, havia apenas duas a quatro espécies encontradas nas lagoas”, disse Fairén. “Os nosos resultados mostram, pela primeira vez, que fornecer repentinamente grandes quantidades de água a microrganismos – adaptados para extrair humidade escassa e evasiva dos ambientes mais áridas – irá matá-los”.

As descobertas têm um efeito positivo para os seres humanos, porque mostra como os organismos se podem adaptar para sobreviver em mundos alienígenas igualmente estéreis.

“O nosso estudo sugere ainda que a recorrência de água líquida em Marte poderia ter contribuído para o desaparecimento da vida marciana, se é que existiu”, afirmou Fairén.

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