Origem da vida recua 1,2 mil milhões de anos: descobertas primeiras estruturas fotossintéticas oxigenadas

O enigma das origens da vida na Terra sofreu uma reviravolta significativa com a descoberta das mais antigas provas diretas de estruturas fotossintéticas oxigenadas.

As origens da vida são ainda misteriosas, mas os cientistas acabam de dar um passo de gigante na compreensão da forma como os organismos complexos emergiram no nosso planeta.

Num novo estudo, uma equipa liderada por Catherine Demoulin, investigadora da Universidade de Liege, na Bélgica, identificou as mais antigas provas diretas de estruturas fotossintéticas oxigenadas.

Estas estruturas, que fazem recuar a origem da fotossíntese em 1,2 mil milhões de anos, foram identificadas em bactérias fossilizadas encontradas na Austrália e no Canadá.

Esta descoberta revolucionária desafia os pressupostos anteriores e revela detalhes sobre a evolução de organismos complexos no nosso planeta.

O estudo, publicado a semana passada na revista Nature, analisou as chamadas  membranas tilacóides, estruturas das cianobactérias que se crê estarem entre os primeiros organismos a realizar a fotossíntese oxigenada.

Este processo de transformação, que converte a luz solar, a água e o dióxido de carbono em energia e oxigénio, desempenhou um papel fundamental na formação da atmosfera da Terra.

O Grande Evento de Oxigenação, desencadeado pelas cianobactérias, alterou profundamente a química dos oceanos e da atmosfera, lançando as bases para a evolução da vida complexa.

Embora o consenso científico fosse de que a fotossíntese teve origem há cerca de três mil milhões e meio de anos, esta investigação sugere algo diferente.

O mecanismo sofisticado da fotossíntese nas cianobactérias parece quase idêntico ao processo observado nas plantas contemporâneas, mostrando a notável resistência deste processo de sustentação da vida durante um longo período.

A dificuldade em chegar a esta descoberta reside na escassez de bactérias fossilizadas. As bactérias, que não possuem estruturas minerais ou ósseas, têm dificuldade em permanecer no registo fóssil.

“Recuar 1.2 mil milhões de anos é dar um salto significativo no tempo, mas não é surpreendente, uma vez que há poucos registos fósseis de bactérias”, explica à Vice o professor Robert Blankenship, da Universidade de Washington, que não esteve envolvido no estudo.

Além disso, estes fósseis são minúsculos, com menos de um milímetro de tamanho, o que dificulta a sua identificação entre camadas de sedimentos comprimidos.

Os investigadores utilizaram técnicas inovadoras, incluindo a moldagem das bactérias em resina, cortando-as em fatias finas e utilizando um microscópio eletrónico, para examinar as minúsculas estruturas.

“Desvendar os mistérios da fotossíntese na Terra pode ajudar-nos a resolver o enigma da Origem da Vida na Terra — e a procurar processos semelhantes noutros planetas”, realça Blankenship.

ZAP //

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