Descoberta a causa dos misteriosos tremores e terramotos lentos

Sinais de tremores sísmicos de longo período e duração foram detetados em áreas onde se injetam fluidos na crosta terrestre para melhorar o desenvolvimento de petróleo e gás natural. Cientistas acreditam que estas injeções podem ser responsáveis por alguns destes tremores e terramotos.

A captura de dióxido de carbono é um processo a partir do qual o CO2 é capturado da atmosfera terrestre ou fontes industriais e armazenado de forma segura a longo prazo.

Uma das formas de armazenamento é conhecida como sequestro geológico, onde o dióxido de carbono é injetado em formações geológicas profundas, como aquíferos salinos ou campos de petróleo. O CO2 fica então armazenado sob a terra em estado líquido ou supercrítico.

Estima-se que a captura de CO2 poderá recolher tanto carbono como mil milhões de painéis solares por ano. Em termos ambientais, é muito melhor capturar dióxido de carbono líquido do que através de águas residuais, pois só assim se mantêm o gás fora da atmosfera.

No entanto, os cientistas descobriram que a captura de CO2 e a sua consequente injeção no subsolo pode provocar pequenos terramotos ou tremores lentos. E as causas destes tremores não são muito diferentes daquelas que originam terramotos massivos e destrutivos.

Neste estudo, publicado este mês na revista Science, foram analisados dados de captura de dióxido de carbono líquido e a sua consequente injeção no subsolo a alta pressão, para produzir petróleo e gás natural.

Neste processo, o carbono é empurrado para o subsolo, impedindo-o de manter o calor na atmosfera da Terra.

O armazenamento de carbono a longo prazo será necessário não só para produzir combustíveis fósseis, mas também para combater as mudanças climáticas. Mas, para que isto seja viável, é necessário ultrapassar dois desafios – encontrar fontes de carbono (combustíveis fósseis, ar ou oceanos) e encontrar formas de o armazenar.

Devido a estes obstáculos técnicos, mas também económicos, poderá ser difícil implementar um processo viável.

Nesta investigação, analisou-se a possibilidade de sequestrar carbono no subsolo, o que poderá melhorar significativamente a sustentabilidade do clima. No entanto, as descobertas deste estudo podem vir a causar terramotos.

Num sismógrafo, terramotos e tremores aparecem de forma diferente. Os grandes terramotos originam solavancos rápidos com pulsos de alta amplitude, ao passo que os tremores aparecem de uma forma mais suave, com uma amplitude consideravelmente menor.

“Estamos satisfeitos por conseguirmos usar estes tremores para rastrear o movimento de fluidos do fracking e monitorizar o movimento de falhas resultantes da injeção de fluidos”, afirma Abhijit Ghosh, professor associado de geofísica da Universidade de Riverside, na Califórnia, e co-autor do estudo.

Num estudo anterior, analisou-se um processo que usa a síntese de Fischer-Tropsch para produzir combustíveis com co-alimentação de biomassa para atingir zero emissões de carbono no ciclo de vida. Mas esta tecnologia exige também a injeção de dióxido de carbono na Terra.

Os sismólogos têm vindo a debater a causa dos tremores. Alguns estudos afirmam que os sinais de tremores provêm de terramotos significativos, que ocorreram a milhares de quilómetros de distâncias.

Outros levantam a hipótese de estes ruídos poderem advir de atividades humanas, como o movimento de comboios ou dispositivos industriais. Já outros, afirmam que a origem dos tremores está na injeção de fluidos no solo.

“Os sismógrafos não são inteligentes. Bastaria conduzir um camião perto de um, ou simplesmente dar um chuto numa pedra, para o aparelho registar alguma vibração. E por isso não sabemos se os sinais estão relacionados com a injeção de fluidos”, afirma Ghosh, citado pelo Tech Explorist.

A possibilidade de que o fraturamento hidráulico poder causar terramotos poderosos é reconhecida há muito tempo. Ghosh afirma que é fundamental continuar a observar estes processos para perceber de que forma é que estes poderão causar a deformação das rochas.

O estudo conclui que esta tecnologia de produção e armazenamento de dióxido de carbono pode ser usada para produzir combustíveis e melhorar o clima da Terra. No entanto, é necessário desenvolver infraestruturas que permitam uma implementação bem-sucedida.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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